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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Entrevista com Leloup

1 - O papel do Cântico dos Cânticos para o mundo contemporâneo é o de nos lembrar o único necessário, o único necessário que pertence a todos os tempos: o amor que faz girar a terra, o coração humano e as outras estrelas.

No coração da Bíblia, esse é o amor que é cantado e celebrado e que é a revelação de um Deus que não e um ídolo - só podemos acolhê-lo quando o damos. O evangelho retomará esse tema lembrando-nos de que Deus é Amor. Quem permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele.

2 - Antes de falarmos de integração, devemos falar de respeito: que o masculino respeite o feminino e o feminino respeite o masculino e descubra que um não pode viver sem o outro.

Um pássaro precisa de duas asas para poder voar; para avançar na vida, o ser humano também precisa de duas asas, a do masculino e a do feminino. Nosso cérebro, para pensar, tem necessidade dos seus dois hemisférios, senão será um pensamento doente, senão, será uma humanidade pela metade. Somos chamados a sermos inteiros, a integrarmos essa dupla dimensão do ser humano.

3 - As crises não são coisas ruins se nós conseguirmos resolvê-las; são ocasiões para sermos verdadeiros, ocasiões de tomada de consciência, ocasiões para crescermos... talvez ocasião para passarmos a um outro nível de relação. No entanto, novamente trata-se de acreditarmos que tudo aquilo que nos acontece tem um sentido e que, através das provações da nossa vida, nós estamos indo rumo ao nosso verdadeiro semblante.

A crise em um casal pode ser um momento de passagem, um conflito que pode tornar-se fecundo. Contudo, trata-se de acreditarmos que o amor terá a última palavra; esse é um combate cotidiano que apenas o amor pode vencer, já que o amor é uma dualidade superada. 1 – 2 - 3: unidade indiferenciada; diferenciação por vezes através da crise, por vezes através da reflexão, mas o objetivo é a unidade diferenciada, a aliança.

4 - O importante é lembrarmos ao ego que ele não é apenas isso, que existe nele algo maior do que ele, mais inteligente do que ele e mais amoroso do que ele. É a partir desse ‘a mais’ no interior de nós mesmos, a partir do Self, que os problemas do “eu” podem ser resolvidos... se o “eu” assim o quiser, pois é sempre o “eu”, ou seja, a forma na qual estamos, que pode se abrir ou se fechar àquilo que o transcende. Uma flor é feita para abrir-se, o ser humano só se torna realmente ele mesmo quando ele se supera.

O homem é uma ponte; a psicologia transpessoal nos lembra que temos essa síntese a realizar entre o finito e o Infinito, entre o Eterno e o tempo, mas isso não quer dizer que tenhamos que destruir o tempo, destruir a forma, destruir o ego, mas abri-los a algo maior e melhor. Revelar o tesouro que o ego esconde no coração dos seus limites.

Jean-Yves Leloup

Doutor em Psicologia, Filosofia e Teologia, escritor, conferencista, dominicano e depois padre ortodoxo, oferece através dos seus livros, conferências e seminários um aprofundamento dos textos sagrados, assim como uma abordagem e uma reflexão extremamente ricas sobre a espiritualidade no quotidiano graças à uma formação pluridisciplinar de rara complementaridade. Membro da organização das Tradições Unidas, doutor honoris causa e ciências da Universidade de Colombo (Sri Lanka), Jean-Yves Leloup ensina na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul em diferentes universidades e institutos de pesquisa em antropologia fundamental. É autor de mais de cinqüenta obras, além de ter comentado e traduzido os evangelhos de Tomé, Maria de Magdala, Felipe e João. Ele participa igualmente de vários encontros entre as diversas tradições.

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