FELICIDADE AUTÊNTICA:
UM VALOR A SER CONQUISTADO
A busca da felicidade é uma tônica constante na vida de todo ser humano. Quase todas as nossas ações são permeadas pelo desejo de encontrar a felicidade, até mesmo aquelas voltadas para a espiritualidade, pois é o bem-estar e o conforto que advêm da fé, que nos torna cada vez mais fervorosos.
No âmbito social os políticos engendram seus discursos com a promessa da realização dos desejos que vão ao encontro da felicidade almejada pelo cidadão. O consumismo é estimulado muitas vezes não pela qualidade do produto vendido, mas pela fantasia da felicidade que ele traz colado
Tão profundamente conhecedora desta natureza hedônica no ser humano, as grandes tradições religiosas, também dela sempre se valeram em seus mitos e dogmas tais como o do “paraíso perdido”. Quem de nós, não ouviu falar de sofrer na terra para ser “feliz” no céu ou abdicar dos bens materiais e herdar a riqueza do divino. Na literatura infantil a fada madrinha e sua varinha mágica tornam a vida do príncipe, da princesa e de todo reinado, felizes para sempre. Mas... afinal... que felicidade é esta? Tão milagrosa, soprada pelos ventos de fora, trazida pelo outro, pela riqueza, pela fada, pelo príncipe!
Observamos então a humanidade caminhando incessantemente, cada vez mais rápida, cada vez com mais desejos e necessidades para encontrar esta tal felicidade; entretanto o semblante das pessoas cada vez mais pesado, os sorrisos escassos, a infelicidade e a tragédia na ordem do dia nos noticiários, na vida cotidiana, no encontro entre as pessoas.
Entretanto parece que esta visão milagrosa da felicidade é um grande equívoco, acreditar que ela venha de fora do indivíduo, que é preciso sofrer, ter muito dinheiro para depois então poder “adquirir” a felicidade. Ver a felicidade como um bem de consumo, algo de fora para dentro, confundir a natureza essencial com o ter circunstancial.
A felicidade autêntica é um estado do Ser, independe do ter, do fazer ou receber. É algo intrínseco a subjetividade genuína. Pode sim ser despertada, estimulada, fortalecida e até construída a partir da sua própria essência, mas há que se ter a consciência da centelha interna da espiritualidade.
A felicidade separada do caráter construtivo dos valores, conduz ao vazio, a ansiedade,
ao medo de perder, a ilusão da separatividade. As emoções positivas surgidas da felicidade real tem um grande propósito na evolução, e as forças que fazem despertar em cada um de nós têm critérios tais como serem valiosas em quase todas as culturas; valiosas por direito próprio e não só como o meio para atingir outros fins ; serem maleáveis.
Indivíduos de notável espiritualidade mantêm perenemente um estado de felicidade, simplesmente por se perceberem como parte do Todo. Por terem naturalmente em si a alegria da gratuidade, em dar amor, atenção, carinho e cuidado ao outro. Por sentirem em si a existência humana como uma expressão divina da Vida, de algo maior que o si mesmo. Os antigos essênios afirmavam que a alegria é o sinal da presença de Deus no ser humano, é o entusiasmo. Para Filon de Alexandria estar triste é estar separado do Ser, é esquecer a realidade de Deus, é dar muita importância àquilo que não É Verdadeiro e divino. O Dalai-Lama com um sorriso constante, afirma que seu primeiro sentimento ao acordar é o de gratidão, de felicidade, por mais um dia que ele está vivo no planeta Terra, e pode seguir então sua missão de partilhar saberes e alegria.
No âmbito da economia atualmente já se cogita a reavaliação do conceito do PIB (Produto Interno Bruto), ou até sua mudança, incorporando o processo do FIB (Felicidade Interna Bruta). FIB é um indicador de progresso que inclui em sua abordagem aspectos sociais, culturais, ecológicos, psicológicos e espirituais. Sugere um programa de mudanças sociais e econômicas, baseadas na premissa de que o desenvolvimento deve promover a felicidade como meta principal. Um aspecto relevante do FIB é o seu pressuposto de que a autêntica evolução da sociedade humana só se dá quando o desenvolvimento material e espiritual ocorrem lado a lado complementando e reforçando-se um ao outro.
Estudos em neurociências, evidenciam a importância da felicidade para se aprender melhor, ser mais saudável, ter mais saúde. A psicologia positiva mostra pesquisas na área das emoções positivas como um fator de cura dos males da mente e da sociedade. Evidencia que o grau de felicidade é diretamente relacionado a auto-estima, e que o individuo que é feliz conquista o sucesso mais facilmente, mas que o oposto nem sempre é verdadeiro. Na abordagem Transpessoal os estudos mostram que a felicidade é um estado de conexão entre a dimensão pessoal e a divina e que experiências de felicidade genuína promovem a emergência de valores positivos como verdade, bondade, solidariedade, coragem, entre outros.
Em nosso mundo contemporâneo é fundamental cada vez mais olhar para a felicidade autêntica; mais do que um Planeta de expiação estamos caminhando para um momento de regeneração e evolução na Terra. A conexão com a felicidade autêntica permite a libertação de múltiplos desejos, do joguete dos dramas e sofrimentos da alma. É uma reorientação dos sentidos, é ter a clareza da finalidade do ser e estar feliz, é um novo olhar, uma nova ação.
Em vez de crítica acirrada conosco ou com o outro, enfatizando todas as imperfeições, já é tempo de nos deleitarmos com as cartas de sabedoria que a natureza nos envia diariamente como recorda Jean Yves Leloup; de comungar com o sol, com as estrelas; cantar com os pássaros, soltar a alegria com a criança que brinca. Nos recordar de sorrir com gratuidade, colocando atenção e nos parabenizando por quantas vezes que nos sentimos felizes e contribuimos para a felicidade do outro.
O estado de felicidade nos leva diretamente a este olhar mais amplo, a uma percepção maior e melhor. É um antídoto para os mais diferentes tipos de obsessão, compulsões e adicções. Além disso este estado feliz nos coloca certamente em contato com as esferas celestiais, com nossos protetores espirituais; nos permite abrir o coração para ensinamentos superiores que nossa razão não consegue alcançar.
Promove também relações mais harmoniosas, nos faz olhar de frente para o próximo como nosso irmão, não permite que fatores externos tirem o estado de felicidade, de simplesmente ser, Ser humano, ser Vida, ser evolução.
Não é o que acontece fora de nós que nos fará mais ou menos felizes, mas certamente a forma como lidamos com as circunstâncias, os fatos. Todos os eventos de nossa vida em última instância estão sempre a serviço de nossa evolução, portanto se cultivarmos a felicidade interior, conectaremos com maior profundidade e sabedoria o sentido de cada evento.
Assim deixamos um convite e reflexão a todos:
Felicidade como um possível caminho para evoluir. Um sentimento a ser cultivado, um valor a ser conquistado.
Vera Saldanha
Psicóloga, doutora em Transpessoal (Unicamp), autora de “Psicologia Transpessoal – Um Conhecimento Emergente da Consciência” – Editora Unijuí – e diretora de Pós-Graduação em Psicologia pela ALUBRAT.
adorei esse texto!
ResponderExcluirme ajudou muito!
obrigado pela ajuda!
É muito bom de vez em quando lêr algo que parace que foi a gente que escreveu. Algo que acreditamos, algo que praticamos e procuramos ensinar a praticar. Dentro da minha simplicidade material, busco semear a minha maior riqueza entre as pessoas. Uma vida pautada no ser que somos, na superação e principalmente na consciência de que estamos humanos, mas somos divinos. A matéria nos turva os sentidos tanto quando muita, quanto quando pouca em nossas vidas. O mundo está cada vez mais "prático" descartando todas e melhores formas de nele viver. Resta-nos resgatarmos uma prática esquecida neste mundo. Valorizar o Ser e colocar o Ter em seu devido lugar.
ResponderExcluirAbraços