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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Felicidade Autêntica: Um Valor a ser Conquistado

FELICIDADE AUTÊNTICA:

UM VALOR A SER CONQUISTADO


A busca da felicidade é uma tônica constante na vida de todo ser humano. Quase todas as nossas ações são permeadas pelo desejo de encontrar a felicidade, até mesmo aquelas voltadas para a espiritualidade, pois é o bem-estar e o conforto que advêm da fé, que nos torna cada vez mais fervorosos.

No âmbito social os políticos engendram seus discursos com a promessa da realização dos desejos que vão ao encontro da felicidade almejada pelo cidadão. O consumismo é estimulado muitas vezes não pela qualidade do produto vendido, mas pela fantasia da felicidade que ele traz colado em si. O que nos seduz não é exatamente o vestido branco, a camisa azul, o aroma do perfume, ou o sabor da cerveja mas o charme que o branco ou azul pode despertar em nós ou no outro; a imagem elegante, conquistadora que aquela marca de perfume revela ou a alegria da companhia, do sol e da praia que a cerveja sugere!

Tão profundamente conhecedora desta natureza hedônica no ser humano, as grandes tradições religiosas, também dela sempre se valeram em seus mitos e dogmas tais como o do “paraíso perdido”. Quem de nós, não ouviu falar de sofrer na terra para ser “feliz” no céu ou abdicar dos bens materiais e herdar a riqueza do divino. Na literatura infantil a fada madrinha e sua varinha mágica tornam a vida do príncipe, da princesa e de todo reinado, felizes para sempre. Mas... afinal... que felicidade é esta? Tão milagrosa, soprada pelos ventos de fora, trazida pelo outro, pela riqueza, pela fada, pelo príncipe!

Observamos então a humanidade caminhando incessantemente, cada vez mais rápida, cada vez com mais desejos e necessidades para encontrar esta tal felicidade; entretanto o semblante das pessoas cada vez mais pesado, os sorrisos escassos, a infelicidade e a tragédia na ordem do dia nos noticiários, na vida cotidiana, no encontro entre as pessoas.

Entretanto parece que esta visão milagrosa da felicidade é um grande equívoco, acreditar que ela venha de fora do indivíduo, que é preciso sofrer, ter muito dinheiro para depois então poder “adquirir” a felicidade. Ver a felicidade como um bem de consumo, algo de fora para dentro, confundir a natureza essencial com o ter circunstancial.

A felicidade autêntica é um estado do Ser, independe do ter, do fazer ou receber. É algo intrínseco a subjetividade genuína. Pode sim ser despertada, estimulada, fortalecida e até construída a partir da sua própria essência, mas há que se ter a consciência da centelha interna da espiritualidade.

A felicidade separada do caráter construtivo dos valores, conduz ao vazio, a ansiedade,

ao medo de perder, a ilusão da separatividade. As emoções positivas surgidas da felicidade real tem um grande propósito na evolução, e as forças que fazem despertar em cada um de nós têm critérios tais como serem valiosas em quase todas as culturas; valiosas por direito próprio e não só como o meio para atingir outros fins ; serem maleáveis.

Indivíduos de notável espiritualidade mantêm perenemente um estado de felicidade, simplesmente por se perceberem como parte do Todo. Por terem naturalmente em si a alegria da gratuidade, em dar amor, atenção, carinho e cuidado ao outro. Por sentirem em si a existência humana como uma expressão divina da Vida, de algo maior que o si mesmo. Os antigos essênios afirmavam que a alegria é o sinal da presença de Deus no ser humano, é o entusiasmo. Para Filon de Alexandria estar triste é estar separado do Ser, é esquecer a realidade de Deus, é dar muita importância àquilo que não É Verdadeiro e divino. O Dalai-Lama com um sorriso constante, afirma que seu primeiro sentimento ao acordar é o de gratidão, de felicidade, por mais um dia que ele está vivo no planeta Terra, e pode seguir então sua missão de partilhar saberes e alegria.

No âmbito da economia atualmente já se cogita a reavaliação do conceito do PIB (Produto Interno Bruto), ou até sua mudança, incorporando o processo do FIB (Felicidade Interna Bruta). FIB é um indicador de progresso que inclui em sua abordagem aspectos sociais, culturais, ecológicos, psicológicos e espirituais. Sugere um programa de mudanças sociais e econômicas, baseadas na premissa de que o desenvolvimento deve promover a felicidade como meta principal. Um aspecto relevante do FIB é o seu pressuposto de que a autêntica evolução da sociedade humana só se dá quando o desenvolvimento material e espiritual ocorrem lado a lado complementando e reforçando-se um ao outro.

Estudos em neurociências, evidenciam a importância da felicidade para se aprender melhor, ser mais saudável, ter mais saúde. A psicologia positiva mostra pesquisas na área das emoções positivas como um fator de cura dos males da mente e da sociedade. Evidencia que o grau de felicidade é diretamente relacionado a auto-estima, e que o individuo que é feliz conquista o sucesso mais facilmente, mas que o oposto nem sempre é verdadeiro. Na abordagem Transpessoal os estudos mostram que a felicidade é um estado de conexão entre a dimensão pessoal e a divina e que experiências de felicidade genuína promovem a emergência de valores positivos como verdade, bondade, solidariedade, coragem, entre outros.

Em nosso mundo contemporâneo é fundamental cada vez mais olhar para a felicidade autêntica; mais do que um Planeta de expiação estamos caminhando para um momento de regeneração e evolução na Terra. A conexão com a felicidade autêntica permite a libertação de múltiplos desejos, do joguete dos dramas e sofrimentos da alma. É uma reorientação dos sentidos, é ter a clareza da finalidade do ser e estar feliz, é um novo olhar, uma nova ação.

Em vez de crítica acirrada conosco ou com o outro, enfatizando todas as imperfeições, já é tempo de nos deleitarmos com as cartas de sabedoria que a natureza nos envia diariamente como recorda Jean Yves Leloup; de comungar com o sol, com as estrelas; cantar com os pássaros, soltar a alegria com a criança que brinca. Nos recordar de sorrir com gratuidade, colocando atenção e nos parabenizando por quantas vezes que nos sentimos felizes e contribuimos para a felicidade do outro.

O estado de felicidade nos leva diretamente a este olhar mais amplo, a uma percepção maior e melhor. É um antídoto para os mais diferentes tipos de obsessão, compulsões e adicções. Além disso este estado feliz nos coloca certamente em contato com as esferas celestiais, com nossos protetores espirituais; nos permite abrir o coração para ensinamentos superiores que nossa razão não consegue alcançar.

Promove também relações mais harmoniosas, nos faz olhar de frente para o próximo como nosso irmão, não permite que fatores externos tirem o estado de felicidade, de simplesmente ser, Ser humano, ser Vida, ser evolução.

Não é o que acontece fora de nós que nos fará mais ou menos felizes, mas certamente a forma como lidamos com as circunstâncias, os fatos. Todos os eventos de nossa vida em última instância estão sempre a serviço de nossa evolução, portanto se cultivarmos a felicidade interior, conectaremos com maior profundidade e sabedoria o sentido de cada evento.

Assim deixamos um convite e reflexão a todos:

Felicidade como um possível caminho para evoluir. Um sentimento a ser cultivado, um valor a ser conquistado.

Vera Saldanha

Psicóloga, doutora em Transpessoal (Unicamp), autora de “Psicologia Transpessoal – Um Conhecimento Emergente da Consciência” – Editora Unijuí – e diretora de Pós-Graduação em Psicologia pela ALUBRAT.

2 comentários:

  1. adorei esse texto!
    me ajudou muito!
    obrigado pela ajuda!

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  2. É muito bom de vez em quando lêr algo que parace que foi a gente que escreveu. Algo que acreditamos, algo que praticamos e procuramos ensinar a praticar. Dentro da minha simplicidade material, busco semear a minha maior riqueza entre as pessoas. Uma vida pautada no ser que somos, na superação e principalmente na consciência de que estamos humanos, mas somos divinos. A matéria nos turva os sentidos tanto quando muita, quanto quando pouca em nossas vidas. O mundo está cada vez mais "prático" descartando todas e melhores formas de nele viver. Resta-nos resgatarmos uma prática esquecida neste mundo. Valorizar o Ser e colocar o Ter em seu devido lugar.
    Abraços

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