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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Entrevista com Leloup

1 - O papel do Cântico dos Cânticos para o mundo contemporâneo é o de nos lembrar o único necessário, o único necessário que pertence a todos os tempos: o amor que faz girar a terra, o coração humano e as outras estrelas.

No coração da Bíblia, esse é o amor que é cantado e celebrado e que é a revelação de um Deus que não e um ídolo - só podemos acolhê-lo quando o damos. O evangelho retomará esse tema lembrando-nos de que Deus é Amor. Quem permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele.

2 - Antes de falarmos de integração, devemos falar de respeito: que o masculino respeite o feminino e o feminino respeite o masculino e descubra que um não pode viver sem o outro.

Um pássaro precisa de duas asas para poder voar; para avançar na vida, o ser humano também precisa de duas asas, a do masculino e a do feminino. Nosso cérebro, para pensar, tem necessidade dos seus dois hemisférios, senão será um pensamento doente, senão, será uma humanidade pela metade. Somos chamados a sermos inteiros, a integrarmos essa dupla dimensão do ser humano.

3 - As crises não são coisas ruins se nós conseguirmos resolvê-las; são ocasiões para sermos verdadeiros, ocasiões de tomada de consciência, ocasiões para crescermos... talvez ocasião para passarmos a um outro nível de relação. No entanto, novamente trata-se de acreditarmos que tudo aquilo que nos acontece tem um sentido e que, através das provações da nossa vida, nós estamos indo rumo ao nosso verdadeiro semblante.

A crise em um casal pode ser um momento de passagem, um conflito que pode tornar-se fecundo. Contudo, trata-se de acreditarmos que o amor terá a última palavra; esse é um combate cotidiano que apenas o amor pode vencer, já que o amor é uma dualidade superada. 1 – 2 - 3: unidade indiferenciada; diferenciação por vezes através da crise, por vezes através da reflexão, mas o objetivo é a unidade diferenciada, a aliança.

4 - O importante é lembrarmos ao ego que ele não é apenas isso, que existe nele algo maior do que ele, mais inteligente do que ele e mais amoroso do que ele. É a partir desse ‘a mais’ no interior de nós mesmos, a partir do Self, que os problemas do “eu” podem ser resolvidos... se o “eu” assim o quiser, pois é sempre o “eu”, ou seja, a forma na qual estamos, que pode se abrir ou se fechar àquilo que o transcende. Uma flor é feita para abrir-se, o ser humano só se torna realmente ele mesmo quando ele se supera.

O homem é uma ponte; a psicologia transpessoal nos lembra que temos essa síntese a realizar entre o finito e o Infinito, entre o Eterno e o tempo, mas isso não quer dizer que tenhamos que destruir o tempo, destruir a forma, destruir o ego, mas abri-los a algo maior e melhor. Revelar o tesouro que o ego esconde no coração dos seus limites.

Jean-Yves Leloup

Doutor em Psicologia, Filosofia e Teologia, escritor, conferencista, dominicano e depois padre ortodoxo, oferece através dos seus livros, conferências e seminários um aprofundamento dos textos sagrados, assim como uma abordagem e uma reflexão extremamente ricas sobre a espiritualidade no quotidiano graças à uma formação pluridisciplinar de rara complementaridade. Membro da organização das Tradições Unidas, doutor honoris causa e ciências da Universidade de Colombo (Sri Lanka), Jean-Yves Leloup ensina na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul em diferentes universidades e institutos de pesquisa em antropologia fundamental. É autor de mais de cinqüenta obras, além de ter comentado e traduzido os evangelhos de Tomé, Maria de Magdala, Felipe e João. Ele participa igualmente de vários encontros entre as diversas tradições.

Felicidade Autêntica: Um Valor a ser Conquistado

FELICIDADE AUTÊNTICA:

UM VALOR A SER CONQUISTADO


A busca da felicidade é uma tônica constante na vida de todo ser humano. Quase todas as nossas ações são permeadas pelo desejo de encontrar a felicidade, até mesmo aquelas voltadas para a espiritualidade, pois é o bem-estar e o conforto que advêm da fé, que nos torna cada vez mais fervorosos.

No âmbito social os políticos engendram seus discursos com a promessa da realização dos desejos que vão ao encontro da felicidade almejada pelo cidadão. O consumismo é estimulado muitas vezes não pela qualidade do produto vendido, mas pela fantasia da felicidade que ele traz colado em si. O que nos seduz não é exatamente o vestido branco, a camisa azul, o aroma do perfume, ou o sabor da cerveja mas o charme que o branco ou azul pode despertar em nós ou no outro; a imagem elegante, conquistadora que aquela marca de perfume revela ou a alegria da companhia, do sol e da praia que a cerveja sugere!

Tão profundamente conhecedora desta natureza hedônica no ser humano, as grandes tradições religiosas, também dela sempre se valeram em seus mitos e dogmas tais como o do “paraíso perdido”. Quem de nós, não ouviu falar de sofrer na terra para ser “feliz” no céu ou abdicar dos bens materiais e herdar a riqueza do divino. Na literatura infantil a fada madrinha e sua varinha mágica tornam a vida do príncipe, da princesa e de todo reinado, felizes para sempre. Mas... afinal... que felicidade é esta? Tão milagrosa, soprada pelos ventos de fora, trazida pelo outro, pela riqueza, pela fada, pelo príncipe!

Observamos então a humanidade caminhando incessantemente, cada vez mais rápida, cada vez com mais desejos e necessidades para encontrar esta tal felicidade; entretanto o semblante das pessoas cada vez mais pesado, os sorrisos escassos, a infelicidade e a tragédia na ordem do dia nos noticiários, na vida cotidiana, no encontro entre as pessoas.

Entretanto parece que esta visão milagrosa da felicidade é um grande equívoco, acreditar que ela venha de fora do indivíduo, que é preciso sofrer, ter muito dinheiro para depois então poder “adquirir” a felicidade. Ver a felicidade como um bem de consumo, algo de fora para dentro, confundir a natureza essencial com o ter circunstancial.

A felicidade autêntica é um estado do Ser, independe do ter, do fazer ou receber. É algo intrínseco a subjetividade genuína. Pode sim ser despertada, estimulada, fortalecida e até construída a partir da sua própria essência, mas há que se ter a consciência da centelha interna da espiritualidade.

A felicidade separada do caráter construtivo dos valores, conduz ao vazio, a ansiedade,

ao medo de perder, a ilusão da separatividade. As emoções positivas surgidas da felicidade real tem um grande propósito na evolução, e as forças que fazem despertar em cada um de nós têm critérios tais como serem valiosas em quase todas as culturas; valiosas por direito próprio e não só como o meio para atingir outros fins ; serem maleáveis.

Indivíduos de notável espiritualidade mantêm perenemente um estado de felicidade, simplesmente por se perceberem como parte do Todo. Por terem naturalmente em si a alegria da gratuidade, em dar amor, atenção, carinho e cuidado ao outro. Por sentirem em si a existência humana como uma expressão divina da Vida, de algo maior que o si mesmo. Os antigos essênios afirmavam que a alegria é o sinal da presença de Deus no ser humano, é o entusiasmo. Para Filon de Alexandria estar triste é estar separado do Ser, é esquecer a realidade de Deus, é dar muita importância àquilo que não É Verdadeiro e divino. O Dalai-Lama com um sorriso constante, afirma que seu primeiro sentimento ao acordar é o de gratidão, de felicidade, por mais um dia que ele está vivo no planeta Terra, e pode seguir então sua missão de partilhar saberes e alegria.

No âmbito da economia atualmente já se cogita a reavaliação do conceito do PIB (Produto Interno Bruto), ou até sua mudança, incorporando o processo do FIB (Felicidade Interna Bruta). FIB é um indicador de progresso que inclui em sua abordagem aspectos sociais, culturais, ecológicos, psicológicos e espirituais. Sugere um programa de mudanças sociais e econômicas, baseadas na premissa de que o desenvolvimento deve promover a felicidade como meta principal. Um aspecto relevante do FIB é o seu pressuposto de que a autêntica evolução da sociedade humana só se dá quando o desenvolvimento material e espiritual ocorrem lado a lado complementando e reforçando-se um ao outro.

Estudos em neurociências, evidenciam a importância da felicidade para se aprender melhor, ser mais saudável, ter mais saúde. A psicologia positiva mostra pesquisas na área das emoções positivas como um fator de cura dos males da mente e da sociedade. Evidencia que o grau de felicidade é diretamente relacionado a auto-estima, e que o individuo que é feliz conquista o sucesso mais facilmente, mas que o oposto nem sempre é verdadeiro. Na abordagem Transpessoal os estudos mostram que a felicidade é um estado de conexão entre a dimensão pessoal e a divina e que experiências de felicidade genuína promovem a emergência de valores positivos como verdade, bondade, solidariedade, coragem, entre outros.

Em nosso mundo contemporâneo é fundamental cada vez mais olhar para a felicidade autêntica; mais do que um Planeta de expiação estamos caminhando para um momento de regeneração e evolução na Terra. A conexão com a felicidade autêntica permite a libertação de múltiplos desejos, do joguete dos dramas e sofrimentos da alma. É uma reorientação dos sentidos, é ter a clareza da finalidade do ser e estar feliz, é um novo olhar, uma nova ação.

Em vez de crítica acirrada conosco ou com o outro, enfatizando todas as imperfeições, já é tempo de nos deleitarmos com as cartas de sabedoria que a natureza nos envia diariamente como recorda Jean Yves Leloup; de comungar com o sol, com as estrelas; cantar com os pássaros, soltar a alegria com a criança que brinca. Nos recordar de sorrir com gratuidade, colocando atenção e nos parabenizando por quantas vezes que nos sentimos felizes e contribuimos para a felicidade do outro.

O estado de felicidade nos leva diretamente a este olhar mais amplo, a uma percepção maior e melhor. É um antídoto para os mais diferentes tipos de obsessão, compulsões e adicções. Além disso este estado feliz nos coloca certamente em contato com as esferas celestiais, com nossos protetores espirituais; nos permite abrir o coração para ensinamentos superiores que nossa razão não consegue alcançar.

Promove também relações mais harmoniosas, nos faz olhar de frente para o próximo como nosso irmão, não permite que fatores externos tirem o estado de felicidade, de simplesmente ser, Ser humano, ser Vida, ser evolução.

Não é o que acontece fora de nós que nos fará mais ou menos felizes, mas certamente a forma como lidamos com as circunstâncias, os fatos. Todos os eventos de nossa vida em última instância estão sempre a serviço de nossa evolução, portanto se cultivarmos a felicidade interior, conectaremos com maior profundidade e sabedoria o sentido de cada evento.

Assim deixamos um convite e reflexão a todos:

Felicidade como um possível caminho para evoluir. Um sentimento a ser cultivado, um valor a ser conquistado.

Vera Saldanha

Psicóloga, doutora em Transpessoal (Unicamp), autora de “Psicologia Transpessoal – Um Conhecimento Emergente da Consciência” – Editora Unijuí – e diretora de Pós-Graduação em Psicologia pela ALUBRAT.

Corpo na Dimensão Transpessoal

O Corpo na Dimensão Transpessoal – Abordagem Integrativa do Corpo

Módulo realizado no curso avançado de Gestalt-terapia no Instituto La Montera de Sevilha

Há situações que nos desafiam e que ao enfrentarmos fazem-nos crescer e comprovar as nossas convicções teóricas e práticas. Assim aconteceu em janeiro de 2009, quando fui dar um módulo no curso de formação em Gestalt-terapia do Instituto La Montera de Sevilha, coordenado por Ramón Resino.

O convite havia sido feito há um ano e surpreendeu-me, pois minha formação e prática era embasada na Psicologia Transpessoal , onde havia desenvolvido a técnica com o corpo na abordagem transpessoal e ao buscar subsídios para o módulo com enfoque gestáltico, não conseguia ir muito adiante. Comecei a fazer a formação em Gestalt-terapia, mas meu foco continuava sendo o trabalho transpessoal , então algo aconteceu: descobri que a minha abordagem de orientação transpessoal , era na verdade uma abordagem integrativa, onde as teorias sobre o corpo representavam degraus da consciência e, enfocar o corpo apenas com uma teoria, reduziria em muito este extenso território sagrado.A experiência com o corpo vai além do individual e pessoal, vai além de uma escola ou uma abordagem, vai além dos limites de visões estreitas sobre o ser humano e apenas a Transpessoal pode integrar tão extenso contexto.

Então viajei com o meu corpo, consciente da extensão de suas memórias , como um instrumento próximo e disponível para acessar no aqui e agora os recursos necessários para realização do trabalho. Estava num país de cultura diferente, num instituto com enfoque gestáltico, com corpos com estruturas musculares específicas em função da historicidade própria da cultura, onde eventos históricos estavam registrados em suas estruturas e com o um idioma do qual havia pouca habilidade de comunicação.

Permiti-me então estar presente, fazendo uma meditação antes do trabalho e reverenciando todos os meus ancestrais que trazia em minhas memórias corporais, todos os meus mestres do aprendizado acadêmico, todos os grandes mestres indígenas e outros que os conheço de estados ampliados de consciência e uma linhagem de grandes mestres do deserto que se apresentaram e que fazia parte de uma egrégora de mestres que acompanhava aquele grupo.Neste instante minha consciência ampliou-se e visualizei que estes aspectos ou metáforas representavam os eixos experiencial e evolutivo do trabalho integrativo da Psicologia Transpessoal.

Nesse momento, houve uma abertura para algo amplo em meu corpo e minha consciência, não havia mais barreiras de cultura, enfoque ou de idiomas e o curso fluiu de uma forma plena. Os corpos comunicavam-se de forma silenciosa, mostrando através de seus contornos , expressões e camadas toda a trajetória de vida das pessoas ali presentes.Estas mensagens foram captadas por um olhar de acolhimento e compreensão daqueles que se aventuram a trabalhar com suavidade e profundidade em uma dimensão psico-espiritual. Esta dimensão desvenda expressões que possibilita mudanças no nível mais profundo daquele que habita o corpo.A transformação se dá em todas as dimensões do Ser, através de uma ordem mais elevada, seja mental, emocional, corporal e espiritual, mudando o nível de consciência da pessoa.

O trabalho iniciou com uma fala sobre o corpo da criação do “sétimo dia do Gênesis , quando Deus criou o homem do barro da terra e inspirou-lhe o sopro de vida em suas narinas dando-lhe vida”. Esta colocação foi feita através de uma história sagrada , onde o objetivo foi mostrar que todo o trabalho que seria desenvolvido, incluiria esta sacralidade , através das funções básicas do corpo humano como a respiração e o movimento.

Todo o módulo teve como pilar a integração das funções psíquicas: razão, emoção, sensação e intuição, bem como as sete etapas do processo transpessoal ( reconhecimento, identificação, desindentificação, transmutação, transformação, elaboração e integração).Os recursos metodológicos incluía o próprio corpo, papel sulfite, giz pastel , massa de modelar e música. E nesta dança integrativa, todo o trabalho vivencial foi desenvolvido e os objetivos propostos foram alcançados.

Conferência de Segurança Pública e Cidadania

Nos dias 29 e 30 de maio passado, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana (SMDHSU) promoveu, em Porto Alegre/RS, a etapa municipal da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg). Esse evento foi destinado à sociedade civil, servidores da área da segurança e poder público para discussão do texto base elaborado pelo Ministério da Justiça e também os sete eixos temáticos de onde sairão as diretrizes e os princípios da segurança pública nacional. Após a discussão estadual, as propostas selecionadas serão encaminhadas à etapa nacional em Brasília, que ocorrerá de 27 a 30 de agosto de 2009. O objetivo da conferência é projetar políticas de segurança por 10 anos em âmbito nacional, com intuito de consolidar um sistema único de segurança pública.

A convite de membros do Conselho do bairro Menino Deus, participei das atividades da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg), como membro da sociedade civil, para contribuir na discussão do eixo 5, referente à ¨Prevenção social do crime e das violências e construção da cultura de paz¨. Foi uma experiência significativa diante dos vários grupos que participavam discutindo o mesmo eixo, inclusive um grupo de representantes de moradores em condição de rua.

Percebi o quanto a comunidade deseja uma cultura de paz e ainda a desvincula da educação que a promove através da formação integral do cidadão. Vários tópicos foram focalizados dentre os quais a violência doméstica, o policiamento comunitário, ações preventivas criminais, a justiça restaurativa, a gravidez na adolescência e as drogas entre outros tópicos que revelam as feridas da sociedade.

Quando o grupo do qual fazia parte apresentou nossa proposta de uma educação que desenvolva a formação integral do cidadão, que possibilite o seu pleno desenvolvimento num trabalho que integre as famílias ao processo, os demais participantes continuavam focalizando suas questões específicas numa visão fragmentada, um ¨ruído¨ somente silenciado quando um dos jovens representantes dos moradores de rua pediu a palavra, disse para todos os presentes que eles e muitos dos que vivem nas ruas não são assaltantes e assassinos, mas saíram de suas casas por não ser possível viver com as famílias seja devido ao uso de drogas ou pela violência familiar que viviam.

O jovem compartilhou sobre os absurdos e loucuras que presenciam nas noites da cidade: jovens drogados, correndo nus pelas ruas; mortes; agressões; crianças e adolescentes nas drogas e na prostituição e pedia a todos os presentes que levassem em conta “que se a família não educa, se a escola não ensina, a rua emprega. Em poucas palavras nos deu apoio e todos silenciaram.

Infelizmente a nossa proposta não foi a mais votada mesmo assim conseguimos que seguisse para a discussão estadual. Da experiência a constatação do quanto é significativo participarmos desses eventos, ampliarmos nossa ação para que realmente possamos viver a tão sonhada cultura de paz.

Erica Brandt


Especialista em Psicologia Transpessoal pela ALUBRAT (Associação Luso Brasileira Transpessoal), MBA em Abordagem Holística Transdisciplinar pela UNIPAZ/RJ, Membro do CIT - Colégio Internacional dos Terapeutas.Formação em ”Terapeutas Transformadores” com Dr. Octávio Rivas Solis (México); Terapia Refocalizadora e Terapia de Casal com Dr. Franco Del Casale (Argentina) e artista plástica.

http://www.ericabrandt.net

Trabalho sobre Relaxamento

Abstract

What’s conscience and its modified states? The different cartographies, specially those who represent the transpersonal line. The contribute of some relaxing techniques for better health, self knowledge and life.

Keywords: Conscience; Modified States of Conscience; Relaxation;

Resumo

Neste trabalho pretende-se perceber o que é a consciência e estados modificados de consciência, percorrendo algumas cartografias em especial com enfoque na psicologia transpessoal.

As técnicas de relaxamento citadas, são em especial técnicas que reduzem e controlam a activação fisiológica e que ao provocarem modificações de consciência induzem a melhorias na saúde, ao conhecimento de si e da vida.

A aplicação de algumas técnicas teve como objectivo verificar dificuldades e resultados na aplicação quotidiana.

Este trabalho não abrange de forma alguma o conhecimento existente sobre os pontos citados, mas refere uma via muito utilizada actualmente.

Palavras-chave: Consciência; Estados Modificados de Consciência; Relaxamento.

Introdução

O conhecimento existente sobre a vida deixa para traz o velho e concebe um novo paradigma, no qual tudo se encontra relacionado, onde tudo é apenas um.

Esta nova perspectiva oriunda de ensinamentos ancestrais de culturas orientais, e verificada por alguns ramos da ciência, indica-nos que o universo é consciência e se pertencemos a esse universo o homem é também uma consciência. Seguindo esta perspectiva, o homem é o conjunto da sua dimensão onde se inclui o aspecto social, cultural, emocional, psíquico e espiritual.

Esta é a visão que a psicologia transpessoal adoptou e ao designar-se também psicologia da consciência estuda a consciência vigíl, sono, sonho e os chamados estados modificados de consciência. Estes fenómenos comuns a todos os sujeitos são fonte de conhecimento e crescimento quando vividos de forma agradável.

Viver em sociedade e corresponder às exigências que o mundo impõe não é tarefa fácil, mas torna-se quase impossível quando as necessidades internas estão em oposição com aquilo que é exigido. Na continuidade deste conflito, o indivíduo vai ficando mais frágil a nível psíquico e físico, adoece. O sintoma pode surgir por exemplo na forma de obsessão, ansiedade, falta de auto-estima, é o sinal de alguma dor enterrada, impedindo-o de viver de forma mais agradável.

Socorrendo-se das terapias convencionais encontra uma panóplia diversificada de métodos, que muitas vezes se revelam ineficazes porque não tratam o núcleo da questão.

A medicina convencional, introduziu para além da terapia medicamentosa, no tratamento destes sintomas e outros, técnicas que se tem revelado muito úteis, é o caso do relaxamento progressivo Jacobson e o autogéneo de Shultz. Estes métodos para além de provocarem uma modificação fisiológica, provocam também uma modificação cognitiva, progressivamente o indivíduo toma consciência de si e do seu corpo, procurando uma forma de abstracção para o seu sofrimento. Esta abstracção leva a um outro estado de consciência mais saudável, e aprender a aceder ao inconsciente dá a possibilidade entender o sintoma e por consequência elimina-lo.

Consciência

Ao longo da história, determinadas particularidades do homem têm sido e continuam a ser objecto de estudo, é o caso do cérebro e suas funções.

Inicialmente as funções do cérebro envolviam o conceito de alma, onde era tema de discussão em filosofia.

As culturas antigas da Índia, China e Japão apresentavam conceitos cósmicos e transcendentais e não propriamente a natureza material do corpo físico. Até mesmo o pensamento da Grécia antiga organiza-se à volta dos elementos agua, fogo, terra e ar.

Hipócrates que viveu entre 460 – 370 A.C., foi o primeiro filosofo a atribuir ao cérebro funções comportamentais.

Mais tarde já no século XVII Descartes propôs o modelo fisiológico das funções cerebrais, no qual a glândula pineal estabelecia a ponte entre o corpo e o espírito, podendo ser estudados em separado. O espírito ou consciência tinham um lugar independente no cérebro sendo o conhecimento uma das suas funções. Desta forma a divisão entre corpo e espírito é assumida.

A ideia de que a consciência está localizada dentro da cabeça e que é uma actividade do cérebro permitiu que as investigações dentro de diferentes ciências seguisse este conceito durante décadas.

Neste momento, o cérebro continua a ser considerado um órgão complexo mesmo sabendo-se muitíssimo mais sobre o seu conteúdo, órgãos e funções, no entanto para a consciência não se encontra uma definição nem localização, continua sendo misteriosa. No entanto existe um consenso, consciência é vida e conhecimento, assim sendo existe uma consciência em todos os seres vivos e uma consciência exclusiva do homem porque apresenta características especificas da sua constituição. Estas características básicas que podem ser modificadas por diversas circunstancias é segundo Gastón (1998) a subjectividade ou a privacidade da mente; unidade do ser, ou seja as percepções, emoções, pensamentos, são integrados no momento de forma conjunta; todo o acto consciente é sempre dirigido a um fim, isto é, existe sempre uma intencionalidade; e a capacidade reflexiva ou seja reconhecer-se a si mesma e ao seu próprio corpo.

A questão do conhecimento tem sido abordado em várias perspectivas por forma a investigar a sua origem e possibilidades. É dado adquirido que para existir conhecimento é necessário um sujeito conhecedor (consciência, mente) e um objecto conhecido (a realidade, o mundo) para além da sensação, percepção e razão.

A perspectiva construtivista (psicologia genética) de Piaget (1991) considera que o conhecimento é um processo contínuo de adaptação que se estabelece entre o organismo e o meio. Para ele o organismo é portador de série de estruturas biológicas, sensoriais e neurológicas, que predispõem ao surgimento de certas estruturas mentais que têm a capacidade de se adaptar ao meio, e é nesta paralelismo biológico/mental que a criança se desenvolve. Este desenvolvimento, aprendizagem é feito por estadios indo da forma mais elementar (no nascimento) até níveis superiores.

Actualmente as neurociências, como ciência interdisciplinar, procura resposta para o problema, sendo a teoria das assembleias neuronais a mais actual para o pensamento consciente. Nesta linha A. Damásio investiga como é que os padrões neuronais são convertidos em imagens e como é que o cérebro produz o sentido de individualidade. Não tendo ainda resposta para os padrões mentais, formula a hipótese que o sentido de individualidade é uma capacidade biológica intrínseca. Para o autor a consciência pode ser dividida em dois tipos:

Consciência central e consciência alargada seguindo-se o self central e o self autobiográfico.

A consciência central tem uma organização biológica simples e não é exclusiva do homem uma vez que não inclui linguagem nem memórias. Assim, o seu campo de acção é o momento presente, não tem futuro nem passado, o passado é o recente, o anterior ao momento, é portanto a consciência do aqui e agora.

A consciência ampliada é um fenómeno biológico complexo. É um

pré-requesito da inteligência, é estabelecida pelo genoma mas a cultura tem uma influencia muito significativa em cada individuo. É esta consciência que fornece ao organismo o sentimento de identidade, que guarda a sua história, elabora projectos para o futuro e age com um propósito, tem intenção. Esta consciência pertence ao ser humano e atinge o seu máximo com a linguagem, evolui ao longo da vida do indivíduo e depende das memórias. É a consciência do eu e da realidade. É esta consciência que permite a moral, a cultura, a ética a arte.

O self central está em constante modificação porque acompanha as mudanças do objecto com as quais o cérebro interage produzindo o senso de propriedade de cada momento. Este self não muda, mas está em continua actualização.

O self autobiográfico é o que dá a noção de identidade ao longo dos anos, é característica individual de cada pessoa, porque inclui a memória autobiográfica, as relações, as particularidades de cada um, as lembranças que foram armazenadas da consciência central. Este self é permanente porque baseia-se em memórias.

Damásio (2000) refere:

“Quer gostemos ou não desta ideia, existe qualquer coisa a que chamamos o sentido do si na mente humana normal e que acompanha o conhecer das coisas. Quer queiramos quer não, a mente humana parece-se com uma casa dividida – há uma linha constante de fractura entre a parte que representa o conhecido e a parte que representa o conhecedor” (pag.223).

A consciência começa quando sentimos o que vemos, ouvimos, tocamos, é a consciência central, do aqui e agora por oposição à consciência alargada que tem a capacidade de reflexão.

Pela percepção, o mundo externo chega à consciência, pela reflexão o individuo toma contacto com seu mundo interno, isto é uma situação dinâmica na qual existe sempre uma actualização e se muitos factores contribuem para o desenvolvimento da personalidade, muitos condicionam e entravam, provocando alterações e/ou distúrbios na consciência que se manifestam de diferentes formas.

Para estudar a consciência Scharfetter (1997) considera que se deve manter presente o significado da palavra em sentido lato, que corresponde à vida psíquica e inclui:

· Campos da consciência:

Consciência da vigilidade – consciência do sono;

Sobreconsciência (consciência mística, cósmica) – subconsciência (consciência hipnótica, sonho).

· O consciente e (pelo menos em parte) o inconsciente.

e em sentido estrito os componentes:

· Estado vígil;

· Clareza da consciência;

· Consciência do Self e do Ego e consciência do mundo exterior;

Estas últimas três áreas de função podem ser representadas no “modelo em casca de cebola da consciência”, proposto por Scharfetter (1997), no qual o indivíduo em estado vígil tem acesso à clareza de consciência (estão activas as funções da percepção, cognição, inteligência, memoria, etc.) e às outras consciências - do eu, da experiência, da realidade e vivência do tempo.


Scharfetter (1977, Pag. 60)

A divisão da vida psíquica é efectuada mais em termos compreensivos do que propriamente como divisões estanques, pois considera que o individuo no seu dia-a-dia flutua para além da consciência vígil média, apresentando mudanças de clareza, lucidez, profundidade etc. independentemente de actividades dirigidas ou estimuladas para esse fim.

A relação homem e consciência para Sharfetter (1977) é a seguinte:

“O ser humano não tem (não possui) qualquer tipo de consciência, é sim consciência incorporada (encarnada); é, ele próprio, em manifestação individual, parte descendente, derivado e participante de um acontecimento, uma corrente de consciência que o ultrapassa (cósmica)” (pag.56).

Neste sentido e retomando o inicio da questão, em estudos Teosóficos Besant (1997) tendo como vivência os ensinamentos da Índia antiga, considera que a consciência existe independentemente do corpo físico porque o homem é um espírito imortal. O corpo físico não sendo o único domicilio da consciência é utilizado como veiculo enquanto o homem permanece nesta dimensão.

Referindo-se ao Eu como consciência enumera as qualidades de Vontade, Sensibilidade e Mentalidade, cujo superior aspecto se manifestam em Poder, Sabedoria e Inteligência, e em contacto com o exterior tomam as respectivas modalidades de Conhecimento, Emoção e Actividade, estes três aspectos permitem que o homem se conheça, se relacione com o mundo e se coloque em contacto com o não - Eu.

Num glossário budista encontra-se a distinção entre vários níveis de consciência: grosseira, subtil, e extremamente subtil. A primeira corresponde à actividade do cérebro, a segunda é o que intuitivamente chamamos de consciência, e que é, entre outras coisas, a faculdade de se conhecer a si mesma, investigar a sua própria natureza e exercer o livre arbítrio. A terceira, e mais essencial, é “a luminosidade fundamental da mente”.

A perspectiva mais recente é dada pela física. Até aqui a física clássica ensina que a realidade não é passível de ser modificada, a física quântica desenvolve a ideia de probabilidade.

A. Goswami (2004) refere que a matéria é constituída por elementos que não são definidos, não se sabe onde estão e que direcção seguem, calcula-se a probabilidade dos átomos. Os objectos são ondas de possibilidades e é a consciência que faz convergir as ondas de possibilidade para formar o objecto real. De acordo com as particularidades de cada indivíduo, a consciência escolhe como reconhecer os objectos, eventos e situações como reais, para que seja experienciada como experiência de vida.

A consciência do observador é a mesma do objecto observado, e ambos são a mesma consciência.

As diferentes perspectivas apontam, que existe consciência desde que nascemos, é essência do ser, acompanha o desenvolvimento humano e é unitária uma vez que integra as várias consciências, mas é ao longo deste desenvolvimento e integração que podem ocorrer falhas, conflitos, que podem ser ultrapassados com a aplicação da psicoterapia.

As psicoterapias sempre tiveram como objectivo a resolução dos conflitos existentes no indivíduo e são fruto da investigação, mais propriamente da psicologia científica do final século XIX no qual o objecto de estudo foi a consciência, no entanto existem diferentes abordagens.

3.1 Freud /Psicanálise

Para perceber a organização psíquica, Freud (1989) considerado o pai da psicanálise, na primeira tópica introduz o conceito de inconsciente, pré-consciente e consciente e demonstrou a proveniência e dependência de todo o psiquismo em relação ao inconsciente. O pré-consciente (censura) já estaria presente no nascimento e teria acesso ao inconsciente e ao consciente – aquilo que o indivíduo incorpora do mundo externo.

À energia psíquica chamou libido, energia sexual que estaria ligada ao inconsciente, que se rege pelo principio do prazer, e ao qual o acesso só seria possível pela interpretação dos sonhos, as intenções eram interpretadas através dos actos falhos e gestos.

Considerou que os distúrbios psicopatológicos tinham origem em experiências passadas e concebeu o desenvolvimento humano dividido por estádios que iriam do nascimento à infância. Para compreender as causas reformula a teoria e na segunda tópica introduz o conceito de Id, Ego e Superego e a pulsão de vida (Eros) e a pulsão de morte (thanatos).

A consciência é aquilo que é cognoscível da vida psíquica e o inconsciente a zona obscura, embora Freud tenha considerado as instâncias, elas não seriam estanques, antes pelo contrario, existe uma continuidade dinâmica, nas quais as vivências passadas juntam-se às actuais, dando sentido à vida do individuo, e é entre o princípio do prazer e o princípio da realidade, que se geram os conflitos, causa de perturbações e distúrbios na consciência.

3.2 Jung/Psicologia Analítica

Jung também considerou as instâncias conscientes e inconsciente, introduz novos conceitos, amplia o sentido de inconsciente ou seja, existe um inconsciente

pessoal, exclusivo da história de vida de cada um, e um inconsciente mais profundo, o colectivo, que seria formado por arquétipos e instintos. O arquétipo seria um padrão humano inato, que continha as experiências evolutivas universais e que poderia ser encontrado em diferentes tempos e culturas e ser percebido de forma indirecta (sonhos, símbolos).

No inconsciente pessoal reside as experiências traumáticas, internalizações e imagos que irão dar origem aos complexos, que são autónomos, dinâmicos com vontade própria e responsáveis pelas perturbações da consciência.

O Ego existe desde o nascimento, é uma entidade puramente psíquica e, é a característica central da consciência, o eu, zona formada por pensamentos e memórias de fácil acesso, que na interacção com o meio ambiente envolve-se em camadas cada vez mais espessas, dando origem à persona ou seja a mascara - a identidade social que indivíduo desenvolve para se adaptar, e aquilo que é rejeitado, não é aceite, é recalcado torna-se sombra. A sombra seria o lado mais primitivo e animalesco da personalidade, mas também com função criadora de espontaneidade e de emoção.

Mas um ponto muito importante da sua teoria é o Self, considerado a totalidade absoluta da psique, um arquétipo que surge quando o inconsciente pessoal se forma e o ego se desenvolve.

Self e ego estão relacionados e interdependentes mas o ego nem sempre segue a orientação deste organizador por isso Jung considera que o ego é mais evidente na primeira parte da vida enquanto o Self se ocupa da segunda fase, mais propriamente na meia-idade, momento propício à individuação, à transcendência.

Estas teorias serviram para estudar o funcionamento psíquico e continuam a ser aplicadas em psicoterapia no entanto diferem bastante. Por exemplo para Freud os eventos da infância são determinantes, o padrão de personalidade do adulto é estabelecido na infância e as forças inconscientes dominam a vida do indivíduo. É necessário trazer ao consciente o trauma para que haja possibilidade de cura.

Para Jung o presente é mais importante do que ao passado. Considera a infância, adolescência e parte da vida adulta como aprendizagens do ego e que muitos comportamentos e atitudes estão na origem do inconsciente colectivo, mas acredita nas potencialidades do individuo e na capacidade de superar e aceder à individuação, parte essencial da realização humana. A psicoterapia vai no sentido de ajudar a integrar aspectos conscientes e inconscientes e encontros com arquétipos, dando origem à individuação.

3.3 Roberto Assagioli/ Psicossíntese

Uma outra perspectiva dentro da psicanálise, que incorpora ideias de Jung, espiritual e alguns do inconsciente colectivo, mas que se torna diferente

na medida que dá primazia ao supraconsciente e ao desenvolvimento do Self.

Para Assagioli (1999) a psique é constituída por: Inconsciente inferior que contém actividades psicológicas, instintos, impulsos primitivos, complexos, sonhos e algumas manifestações patológicas; O inconsciente médio: zona de assimilação de experiências, elaboração de actividades mentais e imaginativas comuns que aguardam por chegar à consciência; O inconsciente superior ou Supraconsciente: é zona dos sentimentos altruístas, de estados de contemplação, iluminação; Campo de consciência: é o estar presente, é o fluxo incessante de imagens, pensamentos, sensações, que podemos observar e analisar; o Eu consciente ou Ego: zona de autoconsciência pura à qual é possível aproximação na medida que o individuo se trabalha interiormente; O Eu superior: zona que está acima do fluxo da corrente mental, não sendo afectada por ela nem pelas condições corporais ao qual se tem acesso por experiências espontâneas

espirituais ou através de uma longa prática espiritual; O inconsciente colectivo: são as imagens arquetípicas e influência histórica dos nossos antepassados.


Psicossíntese – pag.30

Com esta representação da psique, Assagioli (1999) demonstra as dificuldades que o indivíduo tem em se conhecer, de se sentir seguro, satisfeito e a dificuldade de libertação de influências internas e externas, subjugando o ser à ilusão das suas próprias fraquezas, ao afastamento dos outros e por vezes da vida.

A psicossíntese utiliza muitas técnicas de acção psicológica que podem ser vistas como psicossíntese pessoal quando aplicadas ao desenvolvimento e aperfeiçoamento da personalidade e psicossíntese espiritual quando aplicadas ao desenvolvimento harmonioso e crescente unificação do Eu.

A aplicação do método quer para desenvolvimento psicológico e de

auto-realização, distúrbios psicológicos e psicossomáticos quer para educação integral, passa por várias fases tais como: Conhecimento completo da própria personalidade; Controle dos seus vários elementos; Realização do verdadeiro Eu – a descoberta ou criação de um centro unificador; Psicossíntese: a formação ou reconstrução da personalidade em torno de novo centro.

3.4 Maslow /Psicologia Humanista

A psicologia humanista inclui uma nova abordagem.

Uma das figuras de destaque é Abraham Maslow, considerado o pai espiritual da psicologia humanista e percursor da psicologia Transpessoal.

Maslow ( 1968) considera que todos os indivíduos tem capacidade para se auto – realizarem, concretizar as suas capacidades e potencialidades e em função disso desenvolveu a teoria das necessidades humanas, na qual fala de motivação (desejo, vontade…..), meta - motivação (relacionado como desejo) motivos e desejos (dirigem-se aos valores), auto – realização e a motivação final a necessidade do Ser ou transcendência.

Para Maslow, as necessidades humanas estão organizadas e dispostas em níveis, numa hierarquia de importância e de influência, cuja base representa as necessidades mais baixas e no topo, as necessidades mais elevadas. Estas necessidades obedecem a a uma escala de valores que devem ser transpostos. Isto significa que no momento em que o indivíduo realiza uma necessidade surge

outra no seu lugar, exigindo sempre que se encontre os meios para a satisfazer.






distinção entre necessidades D e B. Assim, às quatro primeiras chamou de deficitárias ou inferiores (D – needs), considerando-as como vitais e instintivas, pertencendo a todos os indivíduos, no entanto problemas não resolvidos ou muito significativos tendem a uma fixação que pode durar para o resto da vida, conduzido por exemplo a neuroses. A satisfação destas necessidades permite estados de vida saudável.

A auto – realização é uma necessidade de desenvolvimento superior, não tão poderosa quanto as anteriores mas quando surge o individuo motiva-se porque as necessidades básicas estão satisfeitas.

As pessoas auto - realizadas apresentam características que se destacam, tais como percepção superior da realidade; aumento da centração nos problemas; aumento de criatividade, das relações interpessoais; maior sentido de pertença; maior frequência das experiências de pico ou paroxísticas, contribuindo para uma mudança no sistema de valores, entre outras.

As necessidades do Ser ou transcendência, são as meta – motivações, os valores também designadas por B-needs que se traduzem por verdade, amor, beleza, integridade, plenitude etc. e encontram a sua aplicação na necessidade de contribuir para a humanidade, em fazer algo aos outros baseando-se nas suas próprias potencialidades.

Desta teoria conclui-se que para Maslow além da realização pessoal há a necessidade transpessoal e esta é tão fundamental quanto a água.

Nesta linha também Victor Frankl, desenvolve uma teoria que leva em

conta o homem como corpo, alma e espírito, sendo esta a característica humana que vai além da religião ou do supra – natural.

Crema (1995), citando V. Frank relata o seguinte:

“O homem não pode mais ser considerado apenas como uma criatura cujo interesse fundamental é o de satisfazer as suas pulsões, de gratificar os instintos, ou então, dentro de certos limites, reconciliar entre si o Id, o Ego e o Superego, nem a presença humana pode ser entendida simplesmente como resultado de condicionamentos ou de reflexos condicionados. Neste âmbito, ao contrário, o homem revela-se como um ser que busca um sentido. O esvaziamento dessa busca explica muitos males do nosso tempo” (Pag. 25).

Inicia-se uma nova visão do homem, atendendo-se às potencialidades não valorizadas e que passam a ser centro de investigação e incentivo para uma vida mais plena.

3.5 Ken Wilber/ Psicologia Integral

Ken Wilber (1977) desenvolve as suas ideias com base na filosofia perene, conciliando abordagens ocidentais e orientais.

A sua teoria não refere apenas as fases pelas quais a consciência humana passa, mas também a humanidade.

Na formação da psique existe dois tipos de estruturas, a saber as estruturas básicas que se mantém ao longo do desenvolvimento e são relativamente autónomas e as estruturas de transição que são estruturas que se referem a fases específicas. O self ao adaptar-se ao novo nível substitui ou nega as estruturas de transição.

As estruturas básicas do desenvolvimento da consciência, são dez, a saber: (estadios pré-racionais) Sensoriofisico; Fantasmagórico-emocional; (estadios racionais) Mente-rep; Mente regra/papel; Mente formal-reflexiva; Visão-lógica; (Pós-racionais) - Psíquico; Subtil; Causal e Ultimo.

Desta forma a consciência segue uma orientação hierárquica, e é apresentada como um espectro electromagnético o qual se caracteriza por uma multiplicidade de níveis, são níveis dentro de níveis que se incluem, integram e transcendem.

Mais concretamente, Wilber (2004) designa-o ciclo da vida e representa-o como ascensão e retorno. Assim os estádios pré-racionais e racionais correspondem a uma busca - arco para fora, é o movimento da subconsciência para a autoconsciência caracterizando-se pela auto-afirmação; e os estádios pós-racionais ao retorno - o arco para dentro, é o movimento da autoconsciência para a supraconsciência que caracteriza a crescente auto-percepção.

Cada nível contém aspectos positivos e o potencial para o desenvolvimento humano, mas como é criado por um “dualismo-repressão-projecção” contém tendências a determinadas patologias. Estas situam-se ao nível do ego; nível biossocial; nível existencial e nível transpessoal.

No seu entender as patologias e sofrimento permanecem porque o ego tem dificuldade em descobrir e aceitar o seu carácter ilusório, utilizando a cultura e suas componentes como mecanismos de defesa. A partir do momento que o indivíduo reconhece que tem um espírito e se autoriza a entrar em conexão, começa a derrubar o dualismo e o sofrimento, tornando-se mais completo, mais capaz de amar e partilhar com os outros a grandeza do universo.

3.6 S. Grof/ Respiração Holotrópica

Grof (1997) durante muito tempo dedicou-se à psicoterapia usando substâncias psicadélicas, mais concretamente o LSD, chegando à conclusão que este ácido possibilita a emergência de conteúdos do inconsciente profundo e do supraconsciente.

A utilização deste método deu-lhe a oportunidade de estudar a mente humana e perceber que muitos dos conteúdos emergentes eram semelhantes a relatos de pessoas que praticavam yoga e meditação.

Considera que os distúrbios emocionais e psicossomáticos, tem raízes perinatais e transpessoais e que a categorização patológica de determinados estados mentais, não se enquadram com aquilo que era experienciado pelo indivíduo, e não devem ser tratados pelas terapias convencionais nem entendidos nas cartografias da consciência existentes.

Para aplicação e desenvolvimento do seu método, Grof (1997) desenvolveu a seguinte cartografia:

· Inconsciente apresentando dois níveis: sensorial e o

biográfico-rememorativo;

O nível biográfico estaria em concordância com o inconsciente freudiano, mas para um melhor entendimento do material rememorativo, Grof (1979) incluiu um novo conceito, o sistema coex “ sistemas de experiências condensadas”, que no seu dizer são:

uma constelação dinâmica de memórias (e material de fantasia associado) de diversos períodos da vida do individuo (….) os sistemas representam princípios organizadores gerais, que operam em todos os níveis da psique ( pag.26).

· Nível perinatal, intimamente relacionado com o trauma do

nascimento, subdividido em quatro níveis: Matriz perinatal básica ( MPB I); Matriz perinatal básica (MPB II);Matriz perinatal básica (MPB III);Matriz perinatal básica ( MPB IV).

· Nível transpessoal - ocorre uma expansão da consciência, que

permite uma expansão dos limites normais do corpo, ego, espaço e tempo. A vivência deste nível pode ser dividido em três categorias: expansão espacial; expansão temporal e experiências que vão para além da estrutura da realidade objectiva.

Para Grof (1977) os sintomas não são empecilhos, mas chamadas de atenção para traumas existentes que têm a oportunidade de serem tratados.

A psicoterapia holotrópica caracteriza-se por respiração controlada, música e outras formas de tecnologia sonora, e trabalho corporal focalizado, com o objectivo de accionar um estado alterado de consciência, para que o indivíduo possa mobilizar forças de cura intrínsecas.

Estados Modificados de Consciência (EMC)

O Estado modificado de consciência (EMC) foi utilizado por C.Tart (1990) para designar um estado de consciência no qual o indivíduo sente uma clara mudança no seu padrão de funcionamento mental, não só ao nível quantitativo mas também qualitativo.

Estes EMC hoje estudados e utilizados para fins terapêuticos, já eram conhecidos e utilizados em diversas culturas em diferentes tempos. Utilizavam a dança, canto, oração, mantras, fumos, incluindo a ingestão de plantas psicoativas que provocam drásticas mudanças no funcionamento psicológico, como indutores de estados alterados de consciência. Estas praticas estavam enquadradas na própria cultura e obedeciam a rituais estabelecidos. Eram reconhecidas como geradoras de conhecimento, solução para determinadas doenças assim como a busca do êxtase, do divino.

O consumo das substâncias psicoactivas tem continuado, fora do contexto e do objectivo terapêutico que lhe deu origem, causando grande flagelo social. No século XIX Baudelaire, relatou os efeitos das substancias que consumiu designando-as como paraísos e infernos referindo-se a um dos caminhos que o individuo faz como fuga à dor existencial.

Actualmente uma pratica que junta cada vez mais adeptos, mas que obedece aos rituais mais primitivos é a ingestão do Ayahuasca, com o objectivo de mais rapidamente adquirirem conhecimento sobre si próprio, sobre a vida e experimentar o êxtase.

Os EMC estão relacionados com a vigilidade e clareza de consciência e qualquer indivíduo e em qualquer situação durante o dia, pode sentir modificações quantitativas da sua actividade (nível de consciência) e modificações qualitativas (estados de consciência) e que constituem evolução do comportamento de cada um, podendo ser considerado patológico ou não.

É considerado patológico quando existem anomalias cerebrais e distúrbios neurológicos e também a diminuição quantitativa e qualitativa da vigilidade. Por exemplo a diminuição quantitativa caracteriza estados de onubilação; estupor; coma, etc. quando é qualitativa caracteriza estados de delirium tremus; estado crepuscular, estado oniróide; estado confusional.

No entanto Simões (2003) só o considera quando:

“(…..) (em vigília) o sujeito sente, sempre ou quase sempre com grande intensidade, a sua consciência egóica ameaçada (identidade, vitalidade, consistência, demarcação e actividade) e muito raramente o investe subjectivamente de significado sobrenatural ou preternatural (pelo contrário, os temas são frequentemente baseados em relações interpessoais ameaçadoras) resultando, frequentemente, numa transformação pessoal e social negativa” (pag.7).

Continuando na sua linha de pensamento, considera que existem meios indutores tais como:

· Álcool;

· Alucinogénios de primeira ordem (LSD, DMT, 9-THC):

· Alucinogénios de segunda ordem (óxido nitroso, muscimol);

· Privação estímulos (privação sensorial, hipnose, treino autógeno,

meditação);

· Sobrecarga de estímulos (audição excessiva de música, dança).

Estudos internacionais, incluindo Portugal realizados por Simões, M.Polónio, P.,Vouarx, S.,Staub, S., Dittrich, A., (1986) sobre EAC, revelaram características comuns, com diferentes tipos de indutores, tais como:

· Auto - ilimitação oceânica – perda dos limites do eu; alterações da

noção tempo e espaço. Estado semelhante às experiências místicas.

· Autodissolução angustiante – perda dos limites do eu, associadas a

sensações desagradáveis, angustiantes e destrutivas.

· Reestruturação visionaria – alterações nos processos de informação

que acompanha visões, ilusões etc.

Nesse sentido Simões (2003) substitui alterados por modificados (EMC) por considerar que estes estados podem incluir capacidades criativas; ou seja quando são vivenciados como fonte de bem-estar, de clareza, expressão artística, etc.

As diferentes religiões e filosofias que entendem o ser humano como uma consciência que pertence a uma consciência maior, considera que a maioria das pessoas, vivem adormecidas na realidade que lhes foi imposta e à qual se adaptaram para se enquadrarem no sentido da vida que os mesmos adormecidos chamam de normal. Esta normalidade é considerada por Weill (2003) como patológica, atribuindo-lhe o nome de normose, sendo própria dos estagnados.

Esta consciência fechada ou adormecida pode ser desperta, porque é um estado para o qual qualquer indivíduo está apto. Este despertar pode ocorrer espontaneamente por algo de muito bom ou muito mau que acontece, por algo que toca profundamente o indivíduo, impulsionando-o à descoberta do caminho evolutivo.

Para J. Macrez (1999) para além da consciência fechada e desperta, existe mais dois estados evolutivos da consciência, a saber a consciência iluminada e a consciência noética.

A consciência iluminada, criativa, intuitiva, é um nível que compreende duas etapas. A primeira é a ascensão, que corresponde a um estado de iluminação, é poder aceder ao “imaginário sacral onde o indivíduo pode ter contacto com o mundo simbólico ou outros estados modificados de consciência. A autorização noética agora é maior e é possível experimentar a percepção de pertença à unidade do mundo; consciência dos actos e de si-próprio; abertura e libertação da criatividade, etc. A segunda etapa é a supraconsciência, considerado o nível mais elevado da consciência iluminada (por exemplo o Nirvana dos Budistas). A consciência humana é transcendida. É uma etapa muito difícil porque o individuo tem que fazer uma descida, ou seja, após ter tido acesso à luz, à força e ao conhecimento deve agora confrontar-se com as forças mais obscuras nele existentes. Ele necessita vencer a dualidade e reunir as polaridades num “centro” harmonioso, existente em si próprio e que o liga à energia cósmica. Deve realizar a união de opostos.

Para aceder ao “centro” e religar-se à energia cósmica, é necessário que o

indivíduo chegue a um estado de abandono, de renúncia; uma aceitação de tudo o que é, um desapego total; A noção de consciência pessoal (o “eu” funde-se no Eu).

A última etapa é a consciência noética ou o Ser noético. Um ser noético é

aquele que passou pela experiência do não-Eu; é aquele que se tornou a Totalidade do Ser, que é Uno.

O facto de se considerar muito difícil o acesso a estes últimos níveis, não invalida que os EMC sejam fonte de bem-estar, saúde, realização do propósito, mas também problemáticos se não estiverem enquadrados. Mais um dos aspectos positivos é poderem ser utilizados em psicoterapia em diferentes exercícios para resolução de problemáticas, e serem aprendidos pelo próprio indivíduo para aquisição de uma vida mental mais saudável.

Transpessoal

Actualmente fala-se muito em transpessoal, no entanto este termo não é novo. As filosofias orientais há muito que utilizam este vocábulo como ensinamento de busca, daquilo que vai para além da pessoa. No entanto no ocidente a sua divulgação ocorreu quando se começou a verificar que a psicologia tradicional era demasiado categórica, não abrangia determinados aspectos da dimensão humana, fruto do paradigma vigente

Como foi exposto atrás, A. Maslow foi um dos percursores da psicologia transpessoal, dando origem a um movimento que junta pessoas de diferentes ciências (filosofia, física, bioquímica e outras) e muitos saberes. A investigação e o contributo destas ciências têm operado no sentido de deixar para traz o estabelecido dualismo corpo/mente e a busca desenfreada do materialismo, para constituir um novo paradigma. O novo paradigma é uma nova forma de educar e de estar, tem uma visão holística, ou seja não há nada separado nem independente, como diz Marc-Allan-Descamp (1999),

“existe uma unidade subjacente entre o homem e o universo e há uma consciência energia que opera no universo” (pag.22).

Nesta perspectiva de consciência energia, Almendro (1998) considera que o transpessoal é transmentalidade, transcendência e transpsicologia, uma vez que o homem tem possibilidade de ultrapassar a dualidade, perceber que os diferentes problemas têm um fim em si mesmo e deixar para trás o seu aspecto conformista de doente, reconstruindo o seu bem-estar através dessa energia.

A psicologia transpessoal utiliza conhecimentos de vários saberes, por exemplo recorre a muitos ensinamentos budistas e utiliza conhecimentos da psicologia tradicional por exemplo a psicologia analítica de Jung, onde a vivência do sagrado é tido como terapêutico. No entanto marca a diferença em relação às terapias convencionais porque segundo Roger Walsh y Francês Vaughan in Almendro (1998) o transpessoal utiliza os três olhos do conhecimento: sensorial/introspectivo-racional e contemplativo.

O indivíduo é visto nas suas múltiplas dimensões: bio-psicoemocional, social, cultural e espiritual.

Saldanha (1999) considera que a psicologia transpessoal estuda e aprofunda os conceitos de unidade, vida, Ego, estados da consciência, cartografias da consciência articulando-se dinamicamente com os eixos experienciais e evolutivos. No eixo experiencial recorre a conceitos de Jung utilizando a terminologia REIS (razão, emoção, intuição, sensação) numa abordagem que percorre várias etapas (por exemplo reconhecimento; identificação) para poder “abrir “ espaço para os níveis evolutivos.

Tal como alguns autores anteriormente citados a resolução dos problemas são trabalhados num nível superior ao que lhe deu origem, quer isto dizer que se induz de forma natural um EMC com fim terapêutico utilizando as técnicas apropriadas. Por exemplo um exercício de regressão é em Damásio na consciência alargada.

As técnicas de orientação transpessoal são diversas, mas são enquadradas no nível de consciência do indivíduo e ao fim a que se destinam. Exemplos de técnicas para exploração do inconsciente podem ser: relaxamento; meditação; regressão da memória entre outras.

O terapeuta de orientação transpessoal é o individuo que na sua prática diária utiliza para si próprio as técnicas que aplica, ou seja ele não é um mero aplicador de técnicas mas um individuo que experiência aquilo que aplica. A sua intervenção junto do paciente, como diz Lima (2006):

“não é resolver problemas, corrigir erros, aconselhar ou mostrar o caminho. É ser agente de transformação, possibilitando a reparação das perdas e estando ao lado para que o paciente encontre o seu caminho. É mergulhar no mistério do paciente e na beleza do encontro” (acet. 15).

Relaxamento

Hoje cada vez mais, estão a ser procuradas e aplicadas formas de relaxamento, não só pelos profissionais de saúde como método terapêutico, como também por todos aqueles que se querem cuidar, uma vez que a investigação confirma êxitos na aplicação de diferentes técnicas em diferentes estados de saúde. No entanto esta técnica não surgiu agora.

Na antiguidade, esta palavra era entendida num sentido físico e médico, em particular terapêutico e provem do verbo “laxare” (descontrair, descansar, estender, etc.) e da palavra com a mesma raiz “laxus” (largo, vasto, extenso). O relaxamento é uma técnica ancestral que tem como objectivo o bem-estar e a promoção da cura, encontram-se relatados da prática de hipnose no antigo Egipto e Grécia, nos designados templos do sono e nos ensinamentos do budismo e yoga.

Quando pensamos em relaxamento, pensamos em tranquilidade, o oposto a tensão e stress. Na verdade o relaxamento conduz a um certo repouso físico, a uma descontracção neuro-muscular à qual se associa um bem-estar mental.

Normalmente associa-se relaxamento aos músculos, uma vez que se pretende alívio de tensão e aquisição de um tónus muscular de repouso. Mas o relaxamento visa também o mental e o emocional uma vez que todo o sistema humano está interligado.

H. Selye inventou o conceito de stress, e as suas investigações e a de outros, revelaram a existência de diferentes tipos de stress, as causas e as consequências físicas, psíquicas e comportamentais de um prolongado estado de activação.

A tabela abaixo descreve sucintamente algumas dessas características, (Payne, 2005; Davis, Eshelman & McKay 1996).

Fisiológicos

Subjectivos

Comportamentais

Aumento do ritmo cardíaco

Cansaço e/ou dificuldade em dormir

Aumento do consumo de álcool, tabaco, comida

Aumento da pressão sanguínea

Confusão mental

Perda de apetite ou comer em excesso.

Aumento da ventilação

Indigestão, obstipação, diarreia

Inquietação

Aumento do nível de glicose

Palpitações

Perda de interesse sexual

Aumento de suor

Dores de cabeça

Tendência a sofrer acidentes.

Aumento da tensão muscular

Dificuldade de concentração

Bocejos

Aumento de colesterol

Impaciência, irritabilidade

Tremores

Os mesmos autores referenciam que os mesmos mecanismos que originam o stress pode elimina-los com técnicas de relaxamento. Por exemplo diminuição da frequência e intensidade do ritmo cardíaco.

Neste sentido Titlebaum citado por Payne (2005) considera que o relaxamento pode ser usado como forma preventiva, de protecção do corpo e dos órgãos sujeitos ao stress. De forma terapêutica, para ajudar a aliviar o stress e encontrar as formas de relaxamento que promovem o encontro com a cura inata do organismo. E instrumental, uma vez que o indivíduo pode adquirir competência para lidar com o stress, acalmar a mente permitindo pensamentos mais eficazes.

O relaxamento pode ser profundo ou mais superficial em função do método e ao fim a que se destina.

A indução ao relaxamento pode ser feito por métodos físicos e métodos psicológicos. Os métodos físicos centram-se na actividade autonómica e tensão muscular - o relaxamento muscular progressivo de Jacobson e métodos de respiração são exemplo, e as psicológicas nas atitudes dirigidas ao eu, mais concretamente teoria comportamental, a teoria cognitiva e a cognitiva comportamental destacam-se na sua utilização.

A teoria comportamental considera que o comportamento é pouco dependente das características inatas ou internas do organismo e em grande parte, aquilo que somos e fazemos é determinado pelas circunstâncias da nossa interacção com o meio. Assim, sendo o comportamento pode se modificado através da administração de reforços positivos e negativos.

No modelo cognitivo o determinismo não é externo mas sim interno. O que define o comportamento não é o estímulo mas sim a maneira como o indivíduo interpreta o estímulo. Neste sentido, mais importante do que a situação real, é a avaliação que o individuo faz da situação.

A teoria cognitiva – comportamental, considera que os comportamentos desagradáveis são adquiridos ao longo da história de vida e podem ser modificados, substituídos por outros mais adequados de acordo com aprendizagens mais adaptativas.

Meichenbaum citado por Payne (2005) considera que o comportamento é função de pensamentos positivos ou negativos, ou seja o diálogo interno positivo conduz à concretização de objectivos enquanto o diálogo negativo retira a confiança conduzindo ao fracasso. Assim, propôs a mudança comportamental através da reestruturação de pensamentos conscientes.

Nas diferentes teorias as principais técnicas utilizadas são, a reestruturação cognitiva, visualização dirigida e técnicas de relaxamento.

O relaxamento e o stress estão associados ao sistema nervoso, mais propriamente ao sistema autónomo, ao sistema endócrino e à musculatura esquelética.

6.1 Sistema Nervoso

O sistema nervoso tem como primeira função assegurar o equilíbrio da vida orgânica e tornar possível o ajustamento exterior, isto é permitir a vida de relação. O sistema nervoso inclui o cérebro, a medula espinal, os nervos do corpo, os órgãos sensoriais especializados (olhos, ouvidos) e os órgãos sensoriais microscópicos (os que se encontram na pele). É formado por células nervosas, denominadas neurónios. Os neurónios comunicam entre si através dos químicos que os neurotransmissores libertam. Assim, o impulso é transmitido sob a forma de descargas eléctricas criadas quando os iões de potássio entram e iões de potássio saem do axónio, (Kolb & Whishaw, 2002).

O sistema endócrino está intimamente associado ao sistema nervoso autónomo, em particular as glândulas suprarenais. As glândulas ou cápsulas supra-renais, estão situadas por cima dos rins e são constituídas por córtex e medula. Segundo Payne (2003) a medula produz catecolaminas, noradrenalina e adrenalina, cuja libertação é controlada pelo sistema nervoso simpático. A noradrenalina e a adrenalina são produzidas sob condições de perigo, mas parecem estar intimamente ligadas às emoções. Assim, se uma determinada situação for considerada perigosa ou de desafio, o indivíduo produzirá adrenalina, mas se um outro indivíduo na mesma situação a sentir como agradável, produzirá noradrenalina.

Esta regulação química funciona lentamente, todavia em situações de emergência é o sistema autónomo que, através da mediação nervosa, activa rapidamente glândulas como a supra-renal, para que o organismo fique rapidamente em estado de responder aquelas situações.

Relativamente à musculatura esquelética, Shultz (1991) citando o relaxamento progressivo desenvolvido por Jacobson, considera que esta técnica fisiológica leva automaticamente a um relaxamento do sistema autónomo vegetativo e do sistema nervoso central, ou seja, o alívio da musculatura esquelética acalma a mente através da consciencialização contracção - descontracção.

O esquema abaixo representa resumidamente o sistema nervoso e as suas funções.



O sistema neuromuscular, é deste modo, um mediador no alívio do stress e da ansiedade.

No sistema nervoso, para cada acção há uma reacção, portanto o ideal é encontrar formas que promovam a integração de todo o sistema, contribuindo dessa forma para um maior equilíbrio e por consequência um maior bem-estar.

6.2 Respiração

A respiração está associada ao relaxamento Dado ser automática e de fácil aprendizagem tornou-se instrumento fundamental em muitos exercícios e como meio e indutor de relaxamento. Isto porque a respiração visa o sistema nervoso autónomo verificando-se que com a diminuição do ritmo respiratório predomina a actividade parassimpática.

A respiração é um processo cíclico e automático, controlado pelos centros no tronco cerebral (bulbo e protuberância). A sua função é basicamente garantir as trocas gasosas (receber oxigénio e libertar dióxido de carbono e agua), mas também ajuda a regular a temperatura do corpo, o pH. do sangue e libertar agua. O ar penetra no aparelho respiratório, através da boca e do nariz, onde é aquecido e humedecido, seguindo para os alvéolos e pulmões onde ocorre a troca, fazendo em seguida o caminho inverso. Quando se inspira, os músculos do diafragma (camada muscular) localizado entre o peito e o abdómen, contraem-se, puxando o diafragma para baixo, a caixa torácica é puxada para cima e para fora pela contracção dos músculos entre as costelas e o ar entra. Quando se expira, o diafragma e os músculos das costelas relaxam e o peito desce.

O cérebro promove, em média, uma inspiração a cada cinco segundos, ou seja doze vezes por minuto. A cada quinze, vinte ciclos respiratórios, aproximadamente, o cérebro promove necessariamente uma inspiração mais intensa, o suspiro, que em condições normais, não se percebe.

Quando estamos calmos, ansiosos, excitados ou deprimidos, a respiração fica agitada ou contraída, demasiado superficial ou demasiado rápida, ou seja apresentamos uma respiração de acordo com o estado vivido; fica de acordo com o nosso estado emocional. Aprender a controlar respiração pode levar a uma alteração do estado emocional.

Várias técnicas

Como já referido, existe uma grande variedade de técnicas de relaxamento. Apresentam graus de dificuldade diferentes e podem ser aprendidas facilmente ou não, em função da motivação de quem as pratica e do objectivo a que se propõem.

Por isso cada indivíduo deve utilizar a técnica que mais se adapta ao seu objectivo, uma vez que não existe uma técnica ideal para todos.

Uma técnica muita simples utilizando somente a respiração, é referida por Harrison (2003), a qual designa “Meditação dos três suspiros “. O autor considera que suspirar é uma forma de abrir o corpo e de se libertar, e que pode ser feita por qualquer indivíduo, em qualquer altura, lugar, posição e de olhos abertos ou fechados. Basta apenas exercitar como o descreve.

Existem igualmente outras técnicas bastante simples, de respiração que podem ser executadas em poucos minutos e estão efectivamente comprovadas como eficazes e podem ser combinadas com formas de relaxamento. É o caso da respiração diafragmática que pode ser utilizada de forma isolada ou integrada no relaxamento progressivo ajudando na descontracção e aprendizagem de respirar.

Vários autores referem que embora a respiração seja um processo automático as pessoas não sabem respirar, justificando a causa de várias síndromes.

A respiração como método de relaxamento também requer aprendizagem e treino diário para maior eficácia e duração.

Técnicas mais elaboradas necessitam de mais tempo e lugares com ambiente adequado uma vez que provocam um relaxamento profundo e consequentemente modificações de consciência, possibilitando por exemplo

auto – conhecimento e outras.

7.1 Visualização

As imagens mentais são um processo psicobiológico natural por isso esta técnica pretende que o indivíduo aprenda a criar imagens tranquilizadoras que lhe proporcionem um estado de relaxamento.

Como as imagens estão associadas a emoções, envolve o sistema límbico, as imagens e sensações agradáveis devem provocar alterações na percepção e na disponibilidade dos neurotransmissores estabelecendo-se mudanças de atitudes.

Neste sentido Epstein (1989) considera que as imagens mentais fazem contacto com a realidade interna, permitindo substituir convicções negativas por positivas.

A maioria dos exercícios propostos pelo autor, devem ser praticados diariamente duas a três vezes, durante três minutos.

Inicialmente foi aplicada por Jung (imaginação activa) e Assagioli

(Psicossíntese), sendo hoje muito difundida.

7.2 Relaxamento Progressivo

Um dos métodos mais utilizados e aconselhados na redução da activação, é o relaxamento progressivo de E. Jacobson.

Schultz (1991) referindo-se a este método, descreve-o como uma técnica que não requer, nem força de vontade, nem sugestão, pretende ser uma técnica fisiológica - relaxamento da musculatura esquelética que leva automaticamente a um relaxamento, a uma aprendizagem de auto – tranquilização.

E. Jacobson (1928) chamou ao seu método, consciencialização aprendida ou seja, concentração nas sensações.

Shultz (1991), citando o autor, diz que o fundamento do método consiste em fazer a pessoa sentir a sensação de contracção muscular e, em seguida, induzi-la a observar o relaxamento. A partir do momento que o indivíduo reconhece a tensão, adquire maior facilidade de libertação, e efectuando um treino diário, desenvolve um hábito de repouso que se automatiza com a postura.

O relaxamento progressivo é feito por etapas abrangendo dezasseis grupos musculares, acompanhando de respiração adequada, incluindo os olhos e outros sistemas de expressão.

Shultz (1991) refere a relaxação palpebral, como um exercício de habilidade especial, por existir uma ligação hipnagógica. E para atingir a “relaxação espiritual” cita,

Jacobson ensina os seus pacientes a controlar as pequenas contracções de olhos do aparelho fonador e de outros sistemas de expressão que acompanham pensamentos e sentimentos. A relaxação do aparelho fonador, produz tranquilidade na ideação (pag.348).

O relaxamento diferencial é um outro conjunto de exercícios que tem por objectivo ensinar o indivíduo a relaxar os músculos que se contraem e relaxam de forma alternada, de modo a suprimir sobretensões na actividade quotidiana.

A técnica inicialmente foi desenvolvida para um relaxamento de 16 grupos musculares. Em virtude de ser longa, e requerer um prolongado período de tempo para aprendizagem, vários autores modificaram e adaptaram utilizando-a para sete e para quatro grupos musculares. O tempo de aprendizagem fica reduzido a duas semanas, com um treino de duas sessões diárias com duração de quinze minutos.

7.3. Treino Autógeno

Um outro método com ampla aplicação clínica é o treino autógeno (T.A.).

O T.A. tem a sua origem na experiência médica proporcionada pela hipnose, e foi desenvolvido incluindo ensinamentos de yoga, pelo psiquiatra Schultz em 1932.

Segundo o autor, o ser humano é uma unidade e a aprendizagem espiritual pode influenciar o comportamento total do organismo, uma vez que a alma influência o corpo.

O método (Schultz, 1967) tem como objectivo produzir uma mudança no estado de consciência, não tão profundo como a hipnose, mas muito parecido ao sono, no qual através de frases que induzem à auto-sugestão e imagens mentais tais como peso e calor nas extremidades do corpo, decorre o relaxamento dos músculos e dos vasos sanguíneos. Isto é possível, mediante o domínio progressivo da concentração ou auto regulação concentrativa, feito pelo próprio individuo de acordo com os seus limites e vontade.

Considera condições ambientais e individuais, como facilitadoras da aprendizagem, tais como:

Lugar tranquilo, sem campainhas nem telefone, pouca luz e temperatura agradável.

Utilização de roupa cómoda, olhos fechados e uma atitude de concentração passiva.

Escolher a postura mais adequada. Relativamente à postura aconselha três posições:


Posturas – pag. 86

Deitado, não é a mais recomendável, uma vez que induz ao sono, mas sendo a escolhida, a cabeça deve estar apoiada, os braços descansam ao longo do corpo sem o tocar, pernas afastadas e os pés ligeiramente virados para fora.

Sentado, usar uma poltrona, de forma que a cabeça e os braços possam ficar apoiados e as pernas afastadas, ficando o mais relaxado possível.

Uma terceira postura é sentada num banco, com o dorso curvado, cabeça inclinada para a frente, braços apoiados sobre as coxas e as mãos entre os joelhos. É conhecida como posição de cocheiro.

A aprendizagem do método corresponde a uma série de exercícios divididos em dois ciclos, no entanto o primeiro é o mais utilizado. Mais concretamente, em clínica, o ciclo inferior do relaxamento concentrativo é aplicado utilizando uma forma verbal particular, dirigida a seis zonas diferentes: Músculos; Vasos Sanguíneos; Coração; Respiração; Órgãos Abdominais e Cabeça. Estas frases tem como objectivo produzir efeito e ao mesmo tempo desviar a atenção de outros estímulos. Devem ser repetidas seis vezes e o efeito será intensificado se produzir a imagem mental da zona a que se destinam. O tempo de aprendizagem para cada exercício é de dez a quinze dias.

Schultz (1967) inicia os exercícios pela musculatura voluntária, por ser o sistema que mais obedece ao homem. Assim sendo, o desenvolvimento dos exercícios segue a seguinte ordem:

1. Peso

Inicia-se o exercício com a frase – Estou completamente tranquilo.

Seguindo-se - O meu braço direito (esquerdo) está pesado (seis vezes).

A vivência de peso inicia-se pelo braço mais perto do “eu” ou seja o braço dominante. Finalizando com a frase – Estou completamente tranquilo.

Ao fim de um minuto inicia-se o retrocesso,

· Flexionar e estender o braço energeticamente várias vezes

· Respirar profundamente algumas vezes

· Abrir os olhos.

Segundo Schultz (1967) qualquer pessoa experimentará passado pouco

tempo sensação de peso, e ao fim de quatro a seis dias, a sensação de peso é mais intensa e rápida, manifestando-se nos outros membros.

Esta aprendizagem deve ser efectuada diariamente, duas a três sessões com duração de um minuto, durante quinze dias. Maior prolongamento de tempo, conduz a tensões inconscientes e a uma inconsistência no método.

Este exercício é aplicado de igual forma para o braço não dominante e pernas.

O exercício do peso nas pernas não necessita de retrocesso uma vez que o indivíduo pode começar a movimentar-se.

2. Calor

O segundo exercício refere-se à relaxação vascular, é a prova de calor.

Repetir a frase – O meu braço direito está quente, alternando com as duas frases do exercício anterior.

Tal como no exercício anterior ao fim de alguns dias a sensação de calor generaliza-se a outras partes do corpo.

3. Regulação cardíaca

Schultz recomenda a aplicação da mão direita sobre a zona cardíaca, de modo que esta funcione como um indicador, facilitando a concentração e as sensações produzidas pelo coração. Ao fim de alguns segundos deve iniciar a frase – O coração bate tranquilo e forte – alternando com os exercícios anteriores. Depois de aprendido o exercício, incluindo as sensações já não é necessário colocar a mão sobre o coração. Em caso de tendência a taquicardias utilizar a frase – O coração bate tranquila e regularmente. Ao final de duas semanas inicia-se o repouso respiratório.

4. Regulação respiratória

Não se deve efectuar exercícios respiratórios, mas respirar à vontade, tranquilamente, repetindo a frase - a minha respiração é tranquila – todo o meu ser respira, alternando com as frases dos exercícios anteriores.

5. Regulação dos órgãos abdominais – plexo solar

A concentração deve ser feita sobre o maior gânglio nervoso vital do abdómen, o plexo solar que se situa na metade superior do abdómen, e dizer a frase - o plexo solar irradia calor, alternando com as frases dos exercícios anteriores.

6. Regulação da região cefálica

Repetir a frase - A testa está agradavelmente fresca.

No final de cada exercício deve efectuar-se o retrocesso como já foi

explicado.

Estes seis exercícios constituem a primeira fase do treino autógeno, pelo que no seu conjunto depois de aprendidos o indivíduo deve induzir-se facilmente ao relaxamento da seguinte forma:

· Estou completamente tranquilo.

· Os braços e as pernas estão pesados.

· Os braços e as pernas estão quentes.

· O meu coração bate calmo e forte.

· Eu respiro calmamente, todo o meu ser respira.

· A minha testa está agradavelmente fresca.

·

Ao fim de algumas semanas se o percurso dos exercícios se mantiver sem dificuldades, o tempo de treino pode aumentar para quinze a trinta minutos e ao final de três meses, a concentração poderá ser prolongada até uma hora.

Quando estes exercícios estão dominados, pode incluir-se os exercícios

que Schultz denominou formulas intencionais, ou seja introduzir a(s) frase(s) para problemas específicos. Por exemplo o individuo que quer deixar de fumar, inclui nos exercícios – Eu vou deixar de fumar. Eu sou capaz.

Os exercícios do ciclo superior são dirigidos ás funções mentais.

Schultz (1991) refere,

“Para atingir o grau superior da nossa técnica, a condição prévia é o domínio seguro e pronto da técnica do grau inferior. Os sujeitos devem estar em condições de realizar a comutação específica de maneira imediata através de um acto de curtíssima concentração interior” (pag. 219).

O exercício inicia-se fazendo girar os globos oculares para cima e para dentro, para o centro da testa, de maneira voluntária obtendo-se desta forma uma maior concentração. Os exercícios seguem a ordem.

  • Fazer surgir na imaginação uma cor.
  • Fazer surgir na imaginação objectos específicos.
  • Contemplar representações abstractas.
  • Procurar sentimentos próprios.
  • Representação de uma pessoa.
  • Representar-se e observar-se a si próprio.
  • Experienciar uma vivência própria.

Estes exercícios de uma maneira geral, abrem caminho para o inconsciente, por isso são aconselhados a serem praticados com acompanhamento.

São frequentemente utilizados em praticantes de meditação e muito utilizados em psicoterapia, como foi referido na terapia cognitiva, nas técnicas de psicossíntese e outros.

Adequações e Limites

Verifica-se que a psicologia e a psiquiatria utiliza técnicas de relaxamento e as integra com outras técnicas quando existem distúrbios comportamentais. Mas o treino do relaxamento utiliza-se em todas as situações que requerem ou se aconselha a redução da actividade simpática do sistema neurovegetativo, da tensão muscular e do estado de alerta do organismo. Estas técnicas encontram a sua maior aplicação, em estados de ansiedade, stress, transtornos psicossomáticos e na dor crónica. Neste sentido, vários autores referem (1996, citados por Angelott, (2001) que as técnicas mais utilizadas para alterar os sintomas físicos do stress, nos pacientes com dor crónica é o relaxamento, mais propriamente o relaxamento progressivo de Jacobson o treino autógeno, técnicas de respiração e hipnose.

David e Schwartz (1996) propõem diferentes métodos de relaxamento em função do tipo de ansiedade. Por exemplo para a somática propõem o relaxamento progressivo de Jacobson; na cognitiva a reestruturação cognitiva e meditação, na cognitiva e somática o treino autógeno.

No entanto existem restrições aos métodos.

Nas técnicas de respiração não se deve forçar a respiração. Nem respirar demais nem de menos, mas criar uma respiração agradável de maneira que não surjam sintomas secundários como é o caso de tonturas.

Indivíduos com tendência a hiperventilação devem efectuar os exercícios depois de aprendidos por um técnico de saúde. O respirar em excesso muitas vezes está associado a fobias e uma vez que o relaxamento baixa as defesas, os exercícios poderão ter efeitos contrários ao pretendido.

Schultz (1991) considera que o seu método pode ser aplicada a crianças, mas com idade superior a cinco anos.

Esta terapêutica não deve ser aplicada a indivíduos sem motivação, indivíduos que apresentam graves distúrbios mentais ou emocionais.

Para diagnósticos de diabetes, hipoglicemia e problemas cardíacos os indivíduos devem iniciar e permanecer sob vigilância médica.

Um outro inconveniente é o facto da aprendizagem do ciclo inferior ser demorado. Segundo o autor, o seu domínio leva cerca de dois anos. Outros autores não sendo unânimes, referem períodos de tempo mais curtos, tais como quatro a dez meses, seis meses e três meses. No entanto, não deixa de ser actualmente uma das técnicas mais utilizadas para que o indivíduo aprenda a eliminar o excesso de tensão.

Qualquer uma das técnicas não deve ser entendida como substitutas de consulta médica em caso de doença. O especialista da área recomendará a que mais se adapta.

O relaxamento pode ser visto, não só como uma técnica de alívio de tensão, stress ou dor, mas também uma técnica educacional, na medida que o individuo aprende uma série de competências, descobre/desenvolve as suas potencialidades, tendo a possibilidade de as aplicar na vida quotidiana.

Resistência/Estratégias

Qualquer um dos métodos anteriormente referidos, requerem tempo para aprendizagem, motivação e persistência. Todas elas apelam a sentir o corpo, uma consciencialização que permita perceber a sua linguagem. O homem apresenta tantas funções automáticas, que por isso mesmo não lhe presta atenção. Mas é necessário parar e escutar, é como, fazer as pazes, estar de mãos dadas com o ser. Desta forma estabelece-se um acordo de libertação das tensões excessivas que se pode manifestar em melhores relações com o ambiente e nas relações com os outros.

Dado a capacidade do ser humano, poder pensar em imensas coisas em simultâneo, tornar-se difícil adquirir o hábito de parar de pensar por um momento.

A grande dificuldade inicial prende-se com a atenção, focalizar exclusivamente o exercício pretendido, e à medida que surgem diversos pensamentos, podem surgir dúvidas quanto à eficácia do método ou da capacidade de aprendizagem. No entanto os vários autores referem factores tais como vontade e persistência como fundamentais para o sucesso, assim como não criar expectativas nem estabelecer prazos, apenas entregar-se e deixar acontecer. Os pensamentos distractores devem ser abandonados, voltando a atenção para o pensamento inicial.

Todas as aprendizagens requerem treino, relaxar é aprender a dizer não aquilo que está instituindo, é dizer não aquilo que se considera inútil.

Aplicação e Resultados

Idade: 25

1ª Consulta: Junho de 2006

Anamnese:

Esta jovem é a mais nova numa fratria de quatro masculinos. Teve uma infância considerada saudável e uma adolescência dentro dos parâmetros da idade.

Escolaridade satisfatória e relações sociais agradáveis.

Quando tinha vinte e um anos viveu uma situação de luto de uma pessoa bastante significativa. Situação problemática para a qual recorreu a ajuda médica como forma de lidar e aceitar esta etapa da sua vida.

Retomou os estudos mas considera que a sua vida nunca mais foi a mesma. Sente-se insegura manifestando-se com dificuldade de relacionamento, agitação e medo de não conseguir atingir os objectivos.

Intervenção:

O ambiente é sereno e utilização de música adaptada aos exercícios.

Considerando que a jovem não necessitava terapia medicamentosa, teve inicio a aplicação do treino autógeno com folha de registo, sendo introduzido posteriormente a visualização. A visualização foi introduzida ao fim de um mês, com indicação de aplicação de quatro treinos diários com duração de cinco minutos.

Dificuldades:

Pela grande dificuldade de concentração, os resultados ao final quatro semanas não se apresentavam muito significativos, no entanto já se percebia alguma descontracção.

Na introdução das imagens mentais, verificou-se alguma resistência, no entanto revelou-se bastante significativo porque promoveu o acesso ao imaginário que estava a ser negado.

Resultados

Considero que a discussão da sua sintomatologia e os objectivos dos métodos propostos, contribuíram para um aumento da motivação. O facto de ter entendido que não era apenas paciente mas também participante activa, tornou-a mais interessada, manifestando-se numa maior facilidade de relaxamento e concentração.

A primeira fase do treino autógeno não se encontra completamente dominada.

Conseguiu um estágio profissional e mais confiança nas relações interpessoais, o que contribuiu para o aumento de auto – estima e confiança naquilo que pratica e acredita.

Conclusão

Na evolução das correntes psicológicas e terapias adaptadas, não descurando conhecimentos anteriores, verifica-se que Freud contribui com a descoberta do inconsciente, Jung e Assagioli indicam a possibilidade de aceder e desenvolver o transpessoal e trabalhar símbolos e imagens com fins terapêuticos. K. Wilber representa a consciência como um espectro magnético onde se intercalam os níveis pré e transpessoais e S. Grof as matrizes perinatais. Chega-se ao consenso que o indivíduo não pode ser visto como mente e corpo porque é essa fragmentação que conduz à doença. A nova visão considera mente e corpo como interdependentes e tem em conta o contexto, ou seja interessa o meio ambiente, o emocional, o social e cultural e em particular o espiritual, porque todos estes factores fazem parte da historia de vida e só percebendo este todo é que se pode compreender o particular do individuo.

Por outro lado conhece-se a localização e os órgãos responsáveis por uma série de funções (intuição, emoção, etc.) mas continua sem se saber a localização da consciência. É praticamente consenso que o ser humano é uma consciência que pertence a uma consciência muito maior, universal. As descobertas e continuada investigação ao nível de outras ciências vão exactamente no sentido de demonstrar a existência desta consciência e as implicações recíprocas entre o homem e o universo.

Os relatos de místicos, de muitos praticantes de meditação e resultados terapêuticos confirmam a existência de realidades fora da consciência vigil, é a existência de outros níveis de consciência, níveis mais elevados que são trabalhados porque o dinamismo psíquico é visto como um fluxo energético com inteligência própria, se por um lado tem capacidade para gerar desequilíbrios, doenças, tem também a capacidade de se curar. Neste sentido a indução a EAC por métodos não químicos, relaxamento, permite o indivíduo aceder ao nível que se sobrepõem a sua doença.

Mas o relaxamento, não deve ser visto apenas como técnica quando se manifesta a doença mas também como técnica preventiva, educativa e indutora a estados evolutivos.

Todas as técnicas requerem, tempo, vontade, persistência e disciplina, no entanto estas premissas não devem ser entendidas como fardo, mas sim a possibilidade de por alguns momentos o individuo se lembrar e cuidar de si.

Ao longo do desenvolvimento adquire-se hábitos, padrões de funcionamento que tem tendência a repetir, mesmo aqueles que são sentidos como menos adaptados. O indivíduo relembra e intui que pode ser mais feliz, que pode percorrer a vida de outra forma, no entanto a resistência à mudança é muito grande, porque as crenças fortemente implantadas têm vida própria e não querem ser destronadas. Continua a olhar o mundo e a pensar da mesma forma, criando sempre a mesma realidade. Pensar que é possível mudar e querer encontrar e cuidar daquilo que há de melhor em si, já é criar outra realidade.

Se a vida é um universo de possibilidades, porque não criar pensamentos mais altruístas, e focar a atenção naquilo que há de melhor no ser.

Atingir a tranquilidade e paz tão almejada não é fácil e não existe um método específico, no entanto perseguir o objectivo é perceber que relaxar é outra forma de estar.



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